The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

27 agosto 2007

the lost tapes

a neblina paira sobre a aclimação. pouco se dá a ver, além da esquina com a josé getúlio. apenas a bandeira de são paulo a tremular longe no alto do edifício do banespa, envolta pelo fog paulistano e pelas luzes embaçadas do topo do edifício. cá embaixo dá pra ver as luzes da padaria madame, abrindo suas portas e recolhendo os bebuns da calçada.

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25 agosto 2007

end of a century

adoro acordar sábado às seis da manhã. é uma coisa tão indie. tão alternativa. o dia começa silencioso e róseo, com alguns raios de sol a escapar pela legoland. vem aqui à minha janela. martelar minha cabeça. alimentar minhas dúvidas. se devo isso ou devo aquilo. a quem devo. se devo a alguém. não devo a ninguém. me vendo de vez. chuto o pau da barraca de vez. sou livre de vez. preso pra sempre. doesnt matter. só posso dizer. por enquanto. nos próximos dias. continuarei são. sobre o devir não falo. não me responsabilizo.

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avião

depois da mônica veloso (ex-renan), bem que a denise abreu (ex-anac) também poderia posar pelada na playboy, hein?

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23 agosto 2007

the poetry as an authentic criticism

- olá, poeta, você gosta de rock?
- claro. sou essencialmente um poeta rocker.
- gosta de eagles?
- conheço apenas "hotel california"...
- adoro essa música. é linda, né?
- eu acho meio brega.
- e o que você entende de música?
- tem razão, não entendo nada de música. apenas tenho opinião própria. me desculpe por isso.
- você é cínico.
- me perdoe por emitir opiniões. não é nada que você deva relevar.

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22 agosto 2007

the poetry as a social impossibility

- olá, guria... me diz... tu curtes poesia?
- sim, muito.
- sou poeta.
- parabéns. acho lindo quem tem esse dom das letrinhas.
- verdade. devo admitir que sou um sujeito muito grato por esse dom.
- diga uma pra mim.
- como assim?
- me recite uma poesia.
- lamento. mas não será possível. com licença.

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21 agosto 2007

banheiro-e-sauna

pois este meu novo apartamento (1604) tem lá suas vantagens em relação ao apartamento anterior (901) que eu ocupava aqui no the double tree park. entre as mais vistosas vantagens arquitetônicas de meu atual cafofo beat está a "janelinha do banheiro".
muito útil, a janelinha do banheiro, sabia?
com a janelinha, pode-se...
a) tomar banho às temperaturas escaldantes dos gêiseres, que o vidro do espelho não embaça.
b) aliás, pode-se chapinhar em água pra valer, pois o fluxo de ar oxigenado garantido pela janelinha faz com que diminuam as chances de mophos e ecas bateriológicas se desenvolverem entre as úmidas lajotas.
c) e claro... tem aquela vantagem óbvia de que, com a porta do banheiro fechada e a janelinha bem aberta, tu pode conversar tranquila e detidamente com nosso amigo celite, sem aquele estresse de passar por momentos constrangedores diante de outras pessoas assim que o assunto acabar!
tudo isso é bem bacana.
mas a janelinha do banheiro beat do 1604 tem vantagens adicionais.
por exemplo, sua bela vista para a bela vista e para os arranha-céus da paulista, com destaque para a gigante antena da tevê gazeta. "através desta janela, dá para ver a queima de fogos na paulista em trinta e um de dezembro", me explicou, diante do box, a dona do apê, momentos antes de chutar lá para cima o preço do aluguel de seu nababesco imóvel.
o melhor de tudo, no entanto, a proprietária do 1604 esqueceu-se de me antecipar. trata-se da insidiosa e indisfarçável marofa cannabica que, lá pelo meio da tarde, sobe do 1504 e entra pelo 1604, espalhando-se no ar a partir da janelinha do banheiro.
isso porque the double tree park, tu sabes, is cannabis friendly.

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pluto conjunct ascendant

e então, guria, tu acreditas em mapa astral?
estava fazendo o meu mapa astral beat pela internet.
o melhor momento:
"Choose your adversaries with care, or you could antagonize someone who would deal violently with you. You tend to bring out the worst qualities in people."
(tipo zé dirceu)

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20 agosto 2007

waiting for the summer rain

quatro helicópteros da polícia cruzaram os céus d´aclimação.
pareciam fortemente armados e enfezados e se dirigindo ali aos cortiços do paraíso. era posição de ataque. três helicópteros voando mais baixo, rasteiros sobre os espigões, como se fossem o trio ofensivo de um time de futebol, com centroavante à frente e dois pontas abertos dos lados. o quarto helicóptero voava alguns pés mais acima e um pouco mais atrás do trio de frente.
levantei de meu sofá beat e fui pra janela espiar melhor tamanho esmerilho aeronáutico. era uma tarde quente de sábado. e eu estava assim meio sonado. por um momento pensei que tivesse acordado dentro do filme "apocalypse now". e era agora, agorinha mesmo.
até cheguei a ouvir jim morrison entre o liquidificar das hélices que vinham se aproximando ostensivamente sobre meu avarandado hipster.
lost in a roman wilderness of pain,
and all the children are insane
all the children are insaaane

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we only come out at night

vou parar de trabalhar para voltar a me dedicar às mulheres. é impossível trabalhar e trepar ao mesmo tempo. aliás, acho que ninguém faz isso.

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19 agosto 2007

california sun

são paulo sete da manhã de um domingo. fria, úmida, enevoada, cinzenta. típica. silenciosa a esta hora. nasci aqui, mas me mudei com três anos pra brasília. lá, fui criado na 308 sul. verdejante, bonita, arejada. descia pra brincar no parquinho. cresci nesse mundo seguro. cercadinho do pequeno pônei. agora, cá estou, na metrópole blade runner industrial. aqui, queridos, não precisamos nos preocupar com o aquecimento global. se piorar o treco, capaz que fique bom. nunca se sabe. e brasília continua lá, do mesmo jeito. os mesmos canteiros floridos. em brasília não dá pra ser feliz, porque é utópica. não vou morar num lugar que é, tipo, uma idéia de um cara, talvez dois, sobre "bem estar", "justiça". em são paulo, obviamente, não dá pra ser feliz. são paulo é como a vida. sempre imprevisível, mas com um grande certeza: nunca dará certo.

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17 agosto 2007

ou oito para atendimento pessoal

nunca mais ir ao banco. puxar da tomada o caixa eletrônico. esquecer minha senha. rasgar o extrato. invalidar cartões. zerar aplicações. curto, médio, longo prazo. conta poupança, rendimento de 0,6 ao mês. assinar cheques em branco.

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like max roach

"deixe-me ir, preciso andar
vou por aí a procurar
rir pra não chorar
quero assistir ao sol nascer
ver as águas dos rios correr
ouvir os pássaros cantar
eu quero nascer, quero viver
deixe-me ir, preciso andar
vou por aí a procurar
rir pra não chorar
se alguém por mim perguntar
diga que eu só vou voltar
quando eu me encontrar
quero assistir ao sol nascer
ver as águas do rio correr
ouvir os pássaros cantar
eu quero nascer, quero viver
deixe-me ir, preciso andar
vou por aí a procurar
rir pra não chorar"
(candeia)

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16 agosto 2007

almost was good enough

Ouço calado tuas críticas à minha pessoa. Engulo saliva pra não comprar uma briga. Te deixo liberar o ódio. Tua frustração. De não caber nesse mundo. De não ter pra onde ir.

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o deserto vermelho

acordei às cinco e tanto da manhã. sempre acordo às cinco e pouco da manhã pra ir no banheiro. mas hoje acordei mais tarde, acordei às cinco e tanto. quando abri a porta do quarto, em meu caminho até o cavalheiros, percebi uma estranha luz vinda da janela da sala. décimo-sexto andar, tu sabes, cousas estranhas pela janela all the time. mesmo assim, aquela vermelhidão era peculiar aos meus olhos sonados. apertei a bexiga mais um bocado. apontei na varanda para ver melhor o vermelhar. o céu plúmbeo carregado pesado estufado sobre as poucas janelas acesas. e lá no horizonte, em vez da azul montanha habitual, estendia-se uma silhueta negra de morte, de escapamento industrial, fuligem e gases tóxicos. presumo. essa silhueta se chocando mais acima com o vermelho esmaecido alaranjado do alvorecer físico-químico dos raios solares reagindo naqueles gases todos. eu te digo que nunca a aprazível conurbação chamada são paulo me pareceu assim tão blade runner. sim, tirei um punhado de photos desse momento, photos que não ficaram bacanas devido à baixa luz avermelhada, à visão esturricada e à inoperância do retratista em apreender naturezas mortas. então fui dormir again - depois de passar pelo cavalheiros - eu fui dormir com a estranha sensação de conforto de morar dentro de uma ficção cientítica que deu errado. destopia, subcivilização. não verás país nenhum.

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l´avant garde

festival de arte eletrônica em são paulo (tenho medo)
intervenções urbanas e paisagens eletrônicas (tenho medo)
interatividade e interações em tempo real (muito medo)
a nova fronteira da arte conceitual (muito muito medo)

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14 agosto 2007

agora vai

adorei os ícones do "cansei": ana maria braga, ivete sangalo e regina duarte. ui. que meda!

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pneumotorax

te carrego
como pêlo encravado no peito
inflamado

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equilíbrio

ser seguro e agressivo
o melhor ataque,
a melhor defesa
peças de reposição para a longa competição
estar sempre preparado

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13 agosto 2007

tumultuada, a minha quebrada

Segundo os budistas, devo ter compaixão
Para os capitalistas, espírito empreendedor
Na opinião dos beats, ser vagabundo é a solução
Para as mulheres, “homem trabalhador”

Devo ter saúde, dinamismo social, visão de mundo, saber trabalhar em equipe


Tantas coisas a fazer
Mas as únicas que sinto desejo genuíno são comer e trepar
Ou então morrer
Numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba

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12 agosto 2007

the ground beneath her feet

- olá, guria, me diga, tu curtes poesia?
- adoro pablo neruda. você escreve como ele?
- sei. mas escrevo hai kais...
- sobre o que você escreve?
- escrevo sobre a natureza feminina.
- pode ser sensual.
- é muito excitante, sim.
- o que você repara primeiro numa mulher?
- os pés.
- eu calço trinta e seis.
- bom número, trinta e seis.
- vai escrever um hai kai?
- não. mas posso arriscar no bicho.

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10 agosto 2007

1604

são belas as manhãs do décimo-sexto andar. a neblina industrial ainda tapando os arranha-céus. dá pra ouvir cantando os passarinhos d´aclimação. dá pra ouvir as marteladas da construção.

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09 agosto 2007

night life

minha internet dá pau depois das seis da tarde. primeiro fica lenta, preguiçosa, quase indo embora. depois entra em estado avançado de hibernação. vida vegetativa. e meu modem pisca coloridas fernéticas luzinhas verdes e amarelas tal qual árvore de natal. tem sido assim todos os dias, às seis da tarde, já reparei. deve ter algo a ver com o pôr do sol. ou com o engarrafamento nas principais vias urbanas. deve ter a ver com a queda da temperatura no comecinho da noite. daqui a pouco, pode crer, já vai dar pau. até amanhã.

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08 agosto 2007

casa & decoração

meu novo sofá yuppie chegou na segunda. o toca-discos, a tevê e seus cabos, na terça. me mudei. e hoje acordei e me espantei ao abrir a porta do quarto, dando de cara com meu (ainda) novo sofá yuppie ocupando metade da sala do 1604. meu novo sofá é melhor do que a minha cama - que não há. martelei os quadros na parede, trouxe o ventilador, arrastei minha poltrona beatnik pelo elevador. agora só falta pegar as estrelinhas cafonas no teto do quarto. e só falta catar no banheiro do 901 a escovinha de limpar crosta de bosta na privada. cheirosa.

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05 agosto 2007

o punk não morreu

plantão TPB - do noticiário de cidade:
"Um jovem de 19 anos foi esfaqueado no Largo do Paissandu, na região central de São Paulo, na noite deste sábado. Segundo a rádio Jovem Pan, a polícia acredita que a agressão tenha acontecido durante uma briga de punks. O jovem foi levado ao Pronto Socorro da Santa Casa. Segundo a polícia, o punk estava alcoolizado. Ninguém foi detido."

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04 agosto 2007

the rotten tomatoes

quase uma da tarde, já baixou o preço do tomate. vou ali na feira da loureiro da cruz. um pastel de queijo e um caldo de cana.

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02 agosto 2007

em são paulo, dezenove horas

the breaking news por aí...
são agradáveis as últimas notícias paulistanas:
"multidão tenta invadir estação de metrô"
"trânsito tem 158 quilômetros de lentidão"
"metroviários decidem estender a greve"
e a minha predileta: "polícia tenta conter a multidão"
eu, como não tenho helicóptero, fico no double tree park
espio a turba insana daqui da varanda do décimo sexto andar
e me debruço na janelinha com vista para radial leste

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01 agosto 2007

a vida secreta das palavras

daqui dá pra ouvir a porta da lixeira. mesmo deitado. porque a porta é de lata. e ela faz um barulho alto quando alguém passa por ela e ela bate assim: pãm. ouço a porta da lixeira batendo. ouço passos no corredor. sei que é o zelador, por causa do horário, entregando a correspondência vespertina pelos andares do the double tree park. silêncio. ouço um envelope farfalhar rasteiro, flurflur, por debaixo da porta. ouço os passos novamente. o zelador se afastando. a porta da lixeira batendo seco: pãm. a porra da porta da lixeira é de lata.

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