The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

31 janeiro 2008

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30 janeiro 2008

o absurdo ao alcance das mãos

passar o dia a vadiar. uma hora, duas horas. muitas horas perdidas. unidades de tempo, como diria o will freeman. uma unidade de tempo para ir ao banco, ao supermercado. duas unidades de tempo para o almoço. duas para winning eleven. mais uma unidade de tempo diante da tevê. uma unidade de tempo para escrever besteiras, ler os blogues, fazer poesia beat readymade pra ti. três, quatro horas perdidas. mais uma manhã inteira, acordando cedo, mais uma tarde inteira, sem nem cochilar depois do almoço. fumar um cigarrillo na varanda e ver o tempo passar na velocidade das tuas nuvens cinzentas de fuligem e chuva. a caixinha de música do caminhão do gás. mais uma unidade de tempo. tomar banho, cortar as unhas, fazer a barba, limpar os ouvidos, escovar os dentes talvez. até a noite chegar. mais um dia perdido. amanhã tem outro. e depois tem mais.

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the morning song

esperei que a chuva parasse. parou de chover durante a madrugada. já posso sair de casa novamente. minhas galochas pesadas. comprar pão, respirar os ares d´aclimação. ares novinhos em folha, recém-lavados, ainda úmidos. adivinho o sol entre as nuvens cinzentas.

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29 janeiro 2008

berna beat´s day out

hoje é dia de sair de casa.
uma vez por semana eu saio de casa.
não convém sair mais do que isso, porque muita gente e muita urbanidade cansam minha sensibilidade aflorada de poeta.
então gosto de sair de casa uma vez por semana, não mais.
aproveito para pagar as contas (não há poesia no dinheiro) e para detonar uma picanha no rodluz (reabriu depois de um mês em férias coletivas) e para me entregar a impulsos consumistas (que ainda atormentam minh´alma íntegra).
mas escolho com cuidado o dia para sair de casa.
porque tem dia que a cidade está especialmente encabeçada por algum motivo obscuro. tem dia que é mais bacana ficar em casa entretido com minha poesia delirante. tem dia que é mais bacana ficar em casa jogando oito partidas seguidas de winning eleven. tem dia que, não tem jeito, preciso entregar logo algum peido jornalístico mesquinho para ter grana (não há dinheiro na poesia). tem dia que o sol é de rachar e a poluição até parece mais espessa. tem dia em que as pessoas vêm me visitar. e tem dia em que prefiro nem sair da cama.
então tinha escolhido, já havia alguns dias, que hoje era dia de sair do 1604.
até porque hoje tem maria rosa. e dia de maria rosa em casa é dia de casa com os móveis arrastados, o piso molhado, o banheiro interditado. dia de faxinão radical e cheiro de álcool. dia de maria rosa em casa é dia de rádio ligada em novenas e hinos religiosos.
então este dia de hoje, de fato, é um bom dia para sair de casa.
um belo dia de verão, por que não?
mas chove forte n´aclimação. o sol nem foi visto. a chuva pinga molhada há algumas horas. e o radinho de pilha de maria rosa segue tocando, tocando baixinho, sua ladainha católica. hoje é dia de culpa cristã n´aclimação. dia de chuva.

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28 janeiro 2008

thin air

sonado. abro a porta do quarto, com seu cheiro parado de ar muito respirado, ainda manhã cedo. me esgueiro pelo estreito átrio até a sala de meu apartamento beat. tal movimento me embrulha o estômago. sinto como se a sala flutuasse no éter. o cheiro de gás escapa das frestas do cafofo do velho brito e vem empestear o meu apartamento hipster logo pela manhã. abro portas e janelas para o fétido ar britiano poder circular. o vendaval do décimo-sexto andar bate portas e janelas num átimo de fúria. as britadeiras d´aclimação fazem tremer portas e janelas. acendo um incenso. sândalo.

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25 janeiro 2008

vento leste

o vento me traz janela adentro um cheirinho de batom.
cheiro de guria arrumada, sabe?, pro meu apê beat de solteiro cuecão.
ou seria biscoito são luiz sabor morango?

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Bury me with it

Trabalho no centro financeiro do Brasil. Na avenida paulista. Num espaço cheio computadores, regras corporativas e mulheres com TPM constante. Ganho algum dinheiro. Mais que ganhava quando fazia minhas reportagens beatnik, fotografando e entrevistando a cena underground paulistana, chapado e feliz. Quando quero fumar um cigarro, corro para um pequeno jardim, no primeiro andar, onde fica um curso de inglês. É um jardim simpático, com cadeiras de praça, flores coloridas e caminhos de pedra. Sento num banco, acendo o cigarro e olho para o horizonte. Que não existe mais. Estou emparedado por prédios. Uns espelhados, outros envidraçados, outros com persianas verticais enferrujadas, outros com pastilhas. Não há céu para cair em minha cabeça. Não há virtude em meu coração. Me pergunto. “Qual a vantagem de estar aqui?”. A grana? Não, não é a grana. Por que ela não vale nem um pouquinho disso aqui. A única vantagem é estar vivo. Afinal, eu poderia muito bem estar morto. Como esses sujeitos que morrem todos os dias. Como o cowboy gay do cinema. Como o cara engraçado da Globo.

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24 janeiro 2008

if you liked school, you will love work

o trabalho prejudica o homem.
eis o aforismo mais repetido aqui no TPB, com essas palavras exatinhas, ou de outras maneiras mais.
mas perceba, caso trabalhasse, eu não poderia estar agora acompanhando pela tevê madureira x cabofriense, direto do estádio aniceto moscoso, em conselheiro galvão.
prélio válido pela segunda rodada da taça guanabara.

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objeto selvagem

"No espaço do campo, passa o homem e sua miragem.
No espaço da cidade, dorme o homem em sua passagem.
No espaço da consciência, gera o vírus e sua voragem.
Por todos esses espaços, de surda força indomável,
passa o espaço da palavra com a sua selva sem margem.
Na selva dessa paisagem, no centro de sua arena,
age a força do poema, meu objeto selvagem."
(mário chamie)

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the poetry as a individual expression

- com licença, guria. eu estava pensando... tu curtes poesia?
- sim, como não?
- pois bem, sou poeta.
- que bonito...
- verdade. bonito mesmo.
- e sobre o que gosta de escrever? sobre o amor?
- não. gosto de escrever sobre o sexo.
- mas a poesia está no amor. não está no sexo.
- dizes isso por nunca ter ido pra cama com um verdadeiro poeta.
- te digo: acho que tua poesia será platônica esta noite.
- de fato, pequena, todo poeta é um voyeur.
- vá escrever sozinho tuas poesias. não posso te ajudar.
- de fato, pequena, a poesia é um exercício de onanismo.

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the poetry as unbearable dream

- oi, guria. tu curtes poesia?
- claro.
- pois eu sou poeta, sabia?
- ah. que bom. então eu sou a mulher de teus sonhos.
- em que sentido?
- em todos que imaginar.
- não creio. como tu poderias ser a mulher de meus sonhos?
- ai, poeta... cadê seu senso de humor?
- meus sonhos são selvagens. não há senso de humor ali. meus sonhos são febris.
- o que aconteceu contigo para ficar assim tão amargo?
- ao contrário. eu te diria que não é amargura, apenas devassidão.
- credo, credinho.
- me diz guria, antes de mim, tu já conhecera um poeta de verdade?
- não. me apresente...
- o poeta, guria, é um atormentado. o poeta é atordoado diariamente por sua própria sensibilidade, por sua própria arte. pense que ser poeta te ocuparia os sentidos e as idéias, ser poeta te impossibilitaria uma vida comum.
- me diz... poeta... você... você é sueco?
- não. eu sou poeta.
- poderia ser um poeta sueco.
- sou poeta. nada mais. ser poeta me define em totalidade.
- senhor poeta atormentadinho... eu preciso ir embora agora. vamos?
- oh. não posso. não posso, guria, não posso ir embora contigo.
- por quê?
- porque se tu fores, de fato, a mulher de meus sonhos, me arruinarás em dois instantes.

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o blues da recessão

a bolsa de valores vai explodir
a economia americana vai explodir
teu sistema financeiro, oh, baby, vai ruir
o terceiro mundo vai explodir
quem estiver de sapato, não vai sobrar
oh, não, já dizia o profeta anão da luz vermelha

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the blue light was my baby

esta noite fiz um blues
dormindo fiz um blues
me acordei meio elmore james
café da manhã e bourbon
para o blues d´aclimação

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23 janeiro 2008

bringing it all back home

gosto de ficar em casa ouvindo bob dylan. gosto dos velhos discos do bob. gosto de ficar em casa vendo filmes antigos. gosto de ficar em casa. uma guria me perguntou, então, qual a boa da noite de são paulo? eu te disse que a boa da noite de são paulo é um apartamentinho n´aclimação. um bom vinho, um maço de cigarros e um par de discos do bob. essa é a noite da grande cidade.

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19 janeiro 2008

a ilha do amor

das agências internacionais:
"Botânicos anunciaram a descoberta em Madagascar de uma espécie de palmeira gigante 'suicida', que se autodestrói. A planta é tão grande que pode ser vista em fotos tiradas por satélite. Com 20m de altura e folhas com 5m de comprimento. 'É espetacular', disse Mijoro Rakotoarinivo, que trabalha em Kew Gardens e viu a planta. 'Primeiro há apenas um longo caule como um aspargo no topo da árvore e, então, poucas semanas depois, este caule incomum começa a apodrecer.' Isso porque a árvore gasta tanta energia ao produzir flores que acaba morrendo. "

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17 janeiro 2008

strangers than paradise

eu fico no computador, tu liga a tevê. eu vejo futebol, tu abre o jornal. eu vou pro quarto pagar um dormidão, tu abre a geladeira e bate um laricão. eu meto um dylan na vitrola, tu vai fumar na varanda. eu te chamo para ver o pôr-do-sol na bela vista, tu passa horas debaixo do chuveiro. eu estico a roupa no varal, tua meia ficou sem par. você me chama, eu quero ir pro cinema.

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le chemins de la liberté

"tenho medo que a liberdade se torne um vício"
(miguel sousa tavares)

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16 janeiro 2008

bolinhas

depois de trazer adriano de volta ao brazil e de assinar com carlos alberto, o são paulo futebol clube anuncia interesse em britney spears.

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the poetry as a socially contagious disease

- bom dia, guria. me digas aí, tu curtes poesia?
- ah. há tempos não via mais o poeta. andou sumido?
- verdade, pequena, verdade. às vezes a poesia te impõe um certo distanciamento.
- então andou por aí? a fazer poesia sozinho?
- andei calado. andei amuado. como se a poesia, de repente, me faltasse.
- mal maior não deve haver para um poeta. imagine, faltar-lhe a poesia...
- a poesia tem suas próprias vontades.
- decerto. eu só acredito na poesia que enlouquece o poeta.
- hey, guria. fique quieta.
- que grosseria! me mandar calar... essa não é atitude de um poeta!
- deixe de palavreado. não tome pra si as frases do verdadeiro poeta. eu que o diga: só acredito na poesia que enlouqueça o poeta. pôrra.
- não posso eu mesma tecer meus aforismos sobre a poesia, oras?
- pode. pode sim. tem razão. percebo que é a minha poesia se manifestando em suas palavras. perceba, guria, como a poesia é contagiosa! minha poesia escapa de mim. é maior que eu mesmo. a poesia, guria, é irrefreável em sua própria vontade, em suas diversas manifestações. tão imensa que me escapa. tu és o veículo de minha poesia por estares aqui perto de mim.
- egotrip de poeta é de foder.
- belo aforismo, belo aforismo. sinto isso que tu dissestes como se eu mesmo o houvera dito. obrigado.
- de nada, poeta.

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constatação

a presença de um homem de área permite que os mais levem possam jogar mais soltos

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15 janeiro 2008

the dark side of the european garden

descer a rua augusta até o fim. descer para o lado jardins, é claro. porque descer pelo outro lado, pelo lado centro, é perigoso. to walk on the wild side by yourself. luz vermelha e bas fond paulistanos. descer a rua augusta-ta-ta pelo lado chique. alameda lorena, oscar freire. depois da avenida estados unidos, a rua augusta passa a atender por rua colômbia. e a rua colômbia cruza incólume o jardim europa. pois te digo que deve haver algum significado poético nisso, nessa geopolítica urbana e afetiva. deve haver algum significado nisso. agora.

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and so it is...

"My old man told me one time. You never get wise, you only get older. And most things, you never know why, but that's fine. When the future is frightening, and I seem to be fighting it... well soon as it's brightening then I... I feel fine, and then I, I feel fine."

(Dandy Warhols)

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14 janeiro 2008

the very caucus (again)

o partido democrata (eua) deveria indicar monica levinsky para vice na chapa de hillary clinton.

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13 janeiro 2008

Oh fuck...the very...caucus

Esse partido democrata americano tá querendo zoar a porra toda. Os caras são praticamente talebãs. Radicais e perigosos. Olha só quem eles tão querendo colocar na Casa Branca. Um mulher, vejam só, uma mulé (pelo menos “tecnicamente”)! Não, não. Não pode ser a sério. E a outra opção então? Um...sim, sim. É isso mesmo . Um negro! Um negão. Porra, eles não sabem que a casa é “branca”. Quais serão as próximas pedidas? Baitolas? Estagiárias roliças? Ou...argh...mexicanos??

Ainda bem que contamos com os representantes de deus, da igreja e da propriedade com os respeitáveis senhores de cabeça branca do Partido Republicano (que no final vão levar!)

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11 janeiro 2008

the yellow moon

eu trouxe a febre amarela silvestre para são paulo

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10 janeiro 2008

fishes are jumpin´

eu gostava de acordar às cinco e pouco da manhã. acordar cedo é bem indie, como já disse o john pothead. e o bacana de acordar cedinho é poder caminhar cedinho no aclimation park.
acontece, camarada, que estamos em janeiro. e people believe that they gonna get away for the summer, mas realmente são raros aqueles que conseguem get away a valer.
eram seis em ponto de la matina quando eu, inadvertidamente, cruzei os enferrujados gates do aclimation park. ali mesmo percebi o nefasto efeito janeiro entre as frondosas árvores d´aclimação. o parque estava lotado. uma cabeçada na pista de cooper. sim, já estavam todos lá. às seis da manhã. a galera da são silvestre, a galera isquemia, a galera do escritório. todos lá, orbitando as margens poluídas do aclimation lake em uma massa amorfa, bufante e suarenta. um tiozinho japa todo profissa, agasalhado num uniforme completo da nike para o cooper urbano, passou tirando um fino de mim. outro tiozinho mais ali adiante, a se julgar pela bermuda florida e pela camiseta regata, acabava de sair de um churrasco. estavam lá as donas de casa de peitos caídos e as universitárias de bunda grande. as comadres matraquevam sem parar e seguiam andando e falando falando falando num duplo exercício anaeróbico. um coroa grisalho, com jeitão de torturador aposentado do doi-codi, passeava impune pela alameda, sem o menor pudor em arrastar pela coleira um pequinês subnutrido com cara de rato de laboratório. um playboyzinho da topázio street trotava escondido atrás de seus óculos escuros blindados anti-reflexo. até mesmo o mendigo chegou mais cedo ao parque, pra cochilar no banco de cimento. um jovem executivo falava ao celular. provavelmente estava tratando de "negócios" com um publicitário selfmade man que, duas voltas depois, se fazia ouvir no viva voz de seu cell phone última geração. aumentei um tantinho mais o volume distorcido do grindcore que saía de meu fumengante i-pobre às seis e meia da matina. e espero que o outono chegue ligeiro.
esses caras não deveriam estar trabalhando?
esses caras não deveriam estar em saquarema?
talvez se eu acordar às quatro da manhã...

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09 janeiro 2008

the summertime blues

portas e portões são seres vivos. madeira e ferro são seres vivos. as portas empenam no verão. minhas costelas também empenam no verão. as molduras dos quadros se encurvam sob o sol forte e se rebelam contra as impassíveis paredes. o portão de minha casa emperra no verão. eu também emperro no verão.

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brazilian wax

fiz minha barba depois de três meses. arranquei dois bifes do pescoço e um naco dali de perto da orelha. pensei em conservar o bigodinho mexicano só pra zoar. mas fui até o fim, achando muito estranho.

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lloyd aéreo boliviano

sumiram com o boliviano da rua josé getúlio.
bueno. tecnicamente, o cara não era boliviano. parece que era baiano, acho que john pothead me disse isso certa vez. mas ele tinha a valer um estilo assim evo morales. o camarada armava sua mesinha no meio da calçada, ali de fronte ao boteco sujo, a quinze passos do supermercado dany. o boliviano todo dia armava ali sua mesinha. e vendia especiarias. tipo pimenta do reino moída na hora ou alho frito ou orégano. ou qualquer outra hierba buena que tu quisesses.
o cara ficava lá. sentando na porta do boteco, cuidando de seu empreendimento. sempre mascando um palito entre os dentes. a pança de cerveja estufando os botões da camisa. aquele seu impenetrável olhar cruzado, o olho torto de nascença ou de pinga, vá saber.
acho que foi o kassab que sumiu com ele.

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taça são paulo de futebol júnior

eu vou torcer para o sorriso

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08 janeiro 2008

back in the double

alguma cousa acontece no meu coração quando cruzo a castro alves e a rua pires da mota. é que sempre que chego por aqui, me sinto em casa, estranhamente seguro quando solto e solitário na incrível megalópole superpovoada. e não consigo parar de pensar que pode ser mesmo pretty f*cked up se sentir em casa aqui no the double tree park. outro dia mesmo invadiram o EZ hotel, meliantes de arma em punho fazendo reféns no saguão de entrada e se arremetendo sobre os toddynhos do frigobar. talvez eu devesse me sentir em perigo, exposto ao coração selvagem da vida. eu que sempre fui um carinha motorizado lago sul burguês. mas até tenho a ousadia de pedir pro tx me deixar um quarteirão antes de meu complexo residencial. que é para a conta do taxímetro dar redonda, e também para eu poder terminar de descer a calçada esburacada da pires da mota. alguma novidade nas últimas três semanas? nã, não. o mesmo velho mar. apenas uma nova construção, que descobri lá da janela de meu quarto. consegui distinguir com olhos e ouvidos aguçados um novo bate-estacas a bate-estaquear a terra vermelha d´aclimation. meu apartamento vazio me esperava. o 1604 continuava lá mesmo, no décimo-sexto andar. um cheirinho rançoso de porta fechada. e algumas ovelhinhas de poeira a pastar placidamente nos cantos da sala.

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07 janeiro 2008

pothead in blue

Tenho uma caixinha de madeira marchetada, com um desenho estilo “oriente antigo”. Preta e dourada. Tipo porta-jóias. Não era minha, mas de alguém que tinha uma coleção delas. Mas esta ficou, pois é onde guardo meu kit baseado. E as pontas. Enfim, um cemitério, se é que me entendem. Hoje juntei as pontinhas, pois meu bagulho acabou. Decidi parar de fumar, só por uns tempos. Decidi ficar doidão do jeito mais extremo, que é não usar nada. Ficar de cara. Straight. Não é resolução de ano novo. Sempre tenho essas idéias quando a parada acaba. “Vou dar um tempo”. Normalmente dura pouco. Uma semana se muito. Tenho trabalhado à beça e ficado chapado o resto do tempo. Agora preciso da mente mais afiada, pra olhar a vida com clareza. Pra trabalhar mais, juntar mais dinheiro. Não que eu queira. É apenas porque “não há outro jeito”, como dizem por aí. Trabalhar muito e juntar dinheiro é bacana. Compra-se coisas. Mas eu tenho uns efeitos colaterais sérios. Fico de mau humor, sem inspiração e a convivência excessiva com o ser humano em ambiente laborial me causa náuseas e depressão. Há pouco fumei minha última bagana. Amanhã estarei pronto pra chutar alguns demônios, com os olhos firmes e brancos.

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05 janeiro 2008

do amor entre as moscas

chupado pelo TPB das agências internacionais...
"O consumo diário de álcool pode provocar alterações no comportamento sexual masculino. Segundo uma pesquisa publicada na revista científica PloS One, os machos de mosca-da-fruta submetidos a doses diárias de etanol, que tipicamente cortejam fêmeas, passaram também a cortejar outros machos, informou a Agência Fapesp nesta quinta-feira. 'Se um comportamento como o consumo de álcool se torna mais prazeroso à medida que ele se torna mais freqüente, há maiores chances de que os indivíduos continuem a repeti-lo', explicou Kyung-An Han, líder do grupo que conduz a pesquisa na Universidade Penn State, nos Estados Unidos. A pesquisa mostrou também que, sob efeito do álcool, machos de meia-idade e idosos (moscas de duas a quatro semanas) tiveram propensão maior para o contato desinibido com outros machos quando comparados com indivíduos mais jovens."

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04 janeiro 2008

a verdadeira ângela ro rô

confesso que estou ficando fã da britney spears

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03 janeiro 2008

ventríloquo

cousa mais estranha é ouvir a própria voz
descarnada
saindo esterofônica de dentro do radinho fm

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sebo

te diria que este calor de janeiro, no planalto central do brazil, é quase lívido e transparente. é quase ostensivo e pornográfico. o lago paranoá vai acabar. enquanto me afogo com a saliva que brota das glândulas esturricadas. para tossir em pinotes. na primeira página do jornal, letras garrafais alertam para a febre amarela. minha perna coça, picada de mosquito. te diria que posso sentir, neste momento mesmo, duas pequenas cascatas de suor brotando dentre meus cabelos grudentos e escorrendo por trás de cada uma das minhas orelhas. três banhos por dia. o sabonete palmolive já rachou.

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the midnight special

acordando no meio da madrugada. boiando no travesseiro molhado. o copo de água morna descansa sobre a mesa de cabeceira. intragável. procuro um pouco de ar, na varanda, um cigarro aparece aceso entre meus dedos. combustão espontânea souza cruz. passo as horas da madrugada ali prostrado. frio e calor. meus dedos amarelados de nicotina, meu bigode amarelado de nicotina. o nascer do sol amarelado. o travesseiro amarelado de suor.

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02 janeiro 2008

sobre o silêncio

"hoje não viemos discutir projetos
hoje não viemos pedir
hoje viemos como alguém que visita sua casa
que vem dizer pra família
sobre as dificuldades de se tecer a invenção
sobre o abismo que se abre para além do entretenimento
sobre o prazer que é lutar pelo que se acredita
hoje viemos dizer pra família
que não vamos mais terminar os estudos
e que nossa carne curtida, nosso olho vermelho,
nosso sorriso encarnado e, principalmente, nosso silêncio
dizem tudo."
(chacal)

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um beijo no coração

minhas estimas à toda família TPB
neste belo ano que ora se inicia

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