The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

28 novembro 2008

the poetry as the high noon

... me diz, guria, tu curtes poesia?
- sim, adoro poesia.
- bakana. eu te fiz essa pergunta pois sou poeta.
- como assim, poeta?
- sou o poeta do meio-dia.
- uau.
- curtes, então, a ensolarada poesia do meio-dia?
- não estou bem certa do que seja...
- a poesia do meio-dia é a poesia do sol a pino. a poesia que revela com sua luz branca as cousas em sua inteireza, em sua unidade, em sua indivisibilidade e em sua dessemelhança. a poesia do meio-dia é a poesia máxima à luz do dia. a poesia que anula as sombras e os desvãos. enfim, a poesia que assume a materialidade do objeto poético e, ao mesmo tempo, a poesia que se assume como engenho, como fabricação, como manipulação. isso porque, afinal, tudo está às claras ao meio-dia. não há espaço para o poeta se esconder e fingir que aquilo lá não é com ele.
- puxa. e, poeta, o que seria então a poesia da meia-noite?
- ah. a poesia da escuridão. a poesia da meia-noite seria a poesia do meio-dia em seu negativo. como a noite é o avesso do dia. como a sombra que esconde o que a luz revela.
- pois me parece muito mais interessante a poesia da meia-noite.
- não, não é a mais interessante. justamente por ser a mais sedutora, essa é a poesia que mais se satisfaz por si mesma, que se basta por si mesma. a poesia que se exaure em si mesma. essa é a poesia que se perde do próprio poeta. a poesia da meia-noite eskonde. enquanto a poesia do meio-dia, perceba... a poesia do meio-dia revela.
- sim, sim. poeta! agora me está claro como a luz do dia.
- me diz, guria, tu não pensas a poesia como a claridade da alma?

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27 novembro 2008

getting tired ev´day now

o cansaço bate primeiro atrás dos olhos
os rflexos embaçam, os dedos tropeçam
é qundo começam a te faltar as letras
o corpo esmorece
you just stp making sense

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26 novembro 2008

all that jazz

varando a noite da antiga ciudad
a bordo de meu bólido metálico
nem amor, nem dor,
nem tesão, nem paixão
nem saudades, por que te vais
cada vez sinto por ti menos e menos qualquer cousa lá que seja
cada vez mais distante
tuas estradas vazias, tua noite vazia, teu horizonte vazio
tu é pouco mais do que um passado distante
noventa e três quilômetros horários mais distante a cada instante

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25 novembro 2008

O encolhimento

Atirei em ti. Em desespero mudo. De testa franzida. E ombros curvos. Aquela ferida debaixo da unha. Que me incomodava. Que nada sanava. “Murder me Rachel, I made a mistake. No more pretty boy”. Ainda a ferida. Com unha. Sem unha. Que arranquei. E sangue jorrou. E continuou jorrando. Salgado e escuro. E infecto. E eu que me joguei. Ali naquele canto. Canto vazio. Vazio da voz. Vazio da alma. Vazio de ti. Vazio de mim. E meus braços. Sobre a cabeça. E minhas pernas. Contra o peito. Sem dia a nascer. Sem devir. Sem recomeço.

Por favor, me dê um banho.

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22 novembro 2008

"a minha maneira de estar sozinho"

uh. emossão.
finalmente vai estrear o filme dos vagabundos no festival de brazilya.
rola neste domingo, 23, no cine brasília. primeiro às 20h30 e depois às 23h30. e ainda...
segunda-feira, no centro cultural banco do brasil, às 16h e às 19h30.
terça-feira, no casa park, às 14h e às 21h30.
quarta-feira, no pier vinte e um, às 21h.

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20 novembro 2008

how the west was won and where it got us

quero caminhar pelas ruas do south lake. dizer que fui por aí. pelo mui nobre bairro do lago sul, em brazilya, distrito federal. neste nobre barrio moram ministros e senadores. mas as ruas não têm calçadas. políticos não andam a pé em calçadas. empreiteiros e altos funcionários também não. os bakanas andam em carros importados de vidro fumê, lataria blindada e chapas pretas antimultas ornadas com o distintivo da republika. da república dos bananas. só quem anda a pé pelas ruas do south lake são the working people. teus jardineiros, domésticas e serviçais de semelhante naipe. alguns passeadores de cachorro. mas os cachorros também não precisam de calçadas. até se saem melhor sem calçadas, ao não cagá-las. então andamos pelo asfalto mesmo, costeando a sarjeta, se tu me entendes na beleza desse gesto. ou abra uma picada para dentro do matagal que roça os muros altos, muros verdes, cercas elétricas. o capim cresce alto entre as mansardas do south lake, dá para soltar uns bois no pasto. mas cuidado que eles podem atravessar a estrada. a ruminar. os canteiros de flor são ricamente cultivados por jardineiros de la municipalidad que chegam de manhãzinha, na caçamba de caminhões carbônicos, passam el día a mourejar sob o sol do agreste e depois são prontamente recolhidos, sujos e fedorentos, pelos mesmos caminhões. para prontamente serem despachados até o mais distante subúrbio de tua bela ciudad. somem de nossas vistas até a manhã seguinte. quando chegam trazendo as mais belas flores que o cerrado não dá.

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19 novembro 2008

the poetry as a love-making excuse

- olá, guria, tu curtes poesia?
- sim, adoro poesia.
- pois bem, guria, eis que sou poeta.
- ah. boa.
- boa?
- bacana pra ti.
- me desculpe, mas não entendo. tu não me pareces arrebatada com o que te disse. sobre eu ser poeta...
- não mesmo. já tenho tantos amigos poetas...
- de verdade?
- sim. conheço dois poetas simbolistas, um parnasiano e dois poetas marginais. e tenho uma amiga desconstrutivista. já saí com uma turma de neoconcretos. fora um amigo letrista de mpb, mas esse fica chato quando bebe.
- tipo djavan?
- tipo zeca baleiro.
- mas algum amigo já te disse que escreveu um poema pensando em ti?
- já aconteceu.
- como se sentiu?
- ah, eu achei interessante e no fundo eu gostei de ter ouvido.
- te excitou?
- em demasia. adoro ver a poesia da alma.
- sabe, guria, tu me inspiras muita poesia.

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reconstituição

sei que o assunto anda meio morto...
mas que tal a nayara na playboy?

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heart of darkness

dormir com as galinhas, como se diz. dormir com as galinhas, no bom sentido. te digo que ontem fui me acostar às nove e pouco da noite. tentei enrolar ainda um pouco, mas acompanhar o prélio são caetano vs juventude pela tevê é um pouquito demais até para mim, sujeito de empedernido espírito esportivo. tentei ler um livro, mas as letrinhas miúdas naquelas palavras compridas que enchiam páginas e páginas me deitavam vertigem nos olhos. meti um disco na vitrola, mas chet baker é melhor para dormir gostoso do que qualquer cobertor parahyba. de modo que, antes das dez da noite, eu já ressonava pesadamente. dizem que meu ronco faz tremer vidraças. não sei te dizer ao certo, pois nunca o ouvi, no entanto há testemunhos fortes. bueno, dormi então até me acabar de tanto dormir. sleep the clock around, te diria o poeta. acordei para fazer um pipi amigo lá pelas tantas, e foi ligeiro, logo me deitei de novo, virei o travesseiro proutro lado (a fim de evitar a recente babinha quente na fronha) e me acabei de dormir mais um tanto. então te digo que hoje cedinho, antes das cinco da manhã, eu já me punha disposto, já estava a acordar de meu sono revigorante e rejuvenescedor. pronto para mais um dia de aventuras mil. o diabo, admito, é esse troço de horário de verão. porque assim pouco antes das cinco é antes das quatro, então o que seria manhãzinha cedo se revela em verdade noite fechada. la nuit del sertón. me agasalhei e arrastei minha repousada carcaça escada a baixo. fui até o alpendre apreciar o frescor da madrugada na primavera do cerrado brazileiro. o poeta da madrugada, se tu me entendes. as insones aves noturnas ainda a gracejar em vôos cegos no comprido da noite. e as primeiras aves matinais a se manisfestarem, aqui e ali, com a sonolenta gratidão das folhagens verdulengas. o anfíbio coaxar dos sapos, na beira do lake paranoah, a denunciar o fim da festa dos pernilongos mutantes do ecossistema primitivo. quando os primeiros automóveis rolavam no asfalto, ali atrás da matinha verdejante, seus faróis rompendo a escuridão da dom bosco park way, e agora sim era verdade que a quarta-feira surgia. mais um dia no coração do brazil. terra de desbravadores, pioneiros, bandeirantes, sertanistas. terra de estadistas, lobbistas, golpistas e engravatados. vasto reino dos assessores, dos conhecidos, dos amigos dos amigos. a esfera das altas autarquias a congregarem os bravos homens que não têm mais tempo para a poesia. aos sapos me recolho. margeio o que restou do lago assoreado e pesco em ti a truta da misericórdia.

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18 novembro 2008

é grave a crise

the breaking news do noticiário econômico:
"São Paulo - A Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) confirmou que um operador da corretora Itaú tentou suicídio nesta segunda-feira, disparando um tiro na região toráxica. 'Ele foi socorrido imediatamente no ambulatório da bolsa e transferido para a Santa Casa', informou em nota à imprensa. O tiro foi disparado pouco após as 15h30, segundo a bolsa. Mais cedo, pessoas ligadas ao mercado relataram que um operador de 36 anos tinha atirado contra si mesmo dentro do pregão. De acordo com as fontes, o incidente ocorreu na roda de negociação de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI)."
e aqui segue a análise de investimentos feita pela consultoria financeira TPB online:
"prezado leitor, saque ligeiro todos seus possíveis fundos que estejam aplicados na referida instituição bancária."

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17 novembro 2008

a la recherche du temps perdu

vasculho meu velho quarto
na kasa dos meus pais
o museu do jovem berna beat
antigas photografias, antigas kaligraphias
encontro teu três por quatro
que afanei num chiste
antigos telephones de sete dígitos
teu telephone só dava ocupado

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food stains, love stains

minhas blusas são todas manchadas
amisas anchadas na ança
minhas cuecas são todas manchadas
uecas usadas marelas

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a pedra pomes do amor

minha barba estava deste tamanho.
fui ao mercado comprar um prestobarba e lavei a cara.
teus pêlos entupiram a pia.

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postcards do atacama

estoy a curtir meu exílio campestre acá em brazilya.
casa dos pais. almoço de graça. a tarde inteira pra vadiar.
il dolce far niente.
sinto falta, te admito de passagem, do azedume do velho brito. sinto falta do the double tree park e de sua precária atmosfera beat que me impulsiona à poesia. aqui no planalto central é tudo sempre tão de buenas que a poesia me cheira a veleidades. sinto falta da grande urbe a me pegar pelos fundilhos e me obrigar a usar the poetry como defesa pessoal. se tu me entendes. então fico aqui. curtido o leeento passar das horas. ouço um disco, leio um livro, pesco uma pestana.
outro dia choveu forte por doze minutos. então faltou luz por quase duas horas. fui ao banheiro, a luz de velas, e nem me atrapalhei no escurinho da toalete, ainda sei onde fica minha b*nda.

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14 novembro 2008

cabbies on crack

o taxista é chinês. conversa comigo olhando pelo espelho retrovisor.
mister yee dá uma guinada à esquerda com seu santana e se joga na autopista vinte três de maio. enquanto puxa do bolso seu cartão e me entrega: mister yee.
- kogonhas, né? kogonhas!
não sei porquê, me sinto meio bill murray em lost in translation.
mas sem a scarlett.
- isso. aeroporto de con go nhas.
esmiúço as sí la bas just in case. ele sorri pelo re tro vi sor.
- vai viajar longe?
- se eu vou pra longe?
- cidade longe?
- si, verdad. vou pra longe. vou para a cidade de brasília, distrito federal.
- ah, braxília, né?
- yep.
- você? senado?
- senado?
- senado!
- se eu sou do senado federal? não senhor...
olho pra mim mesmo: mochilão, bermudas, ipods.
- meu irmão trabalha senado.
- que boa pra ele, hein? boquinha...
- você? xupremo?
- seu primo?
- xupremo!
- meu primo?
- xupremo!
- não... não sou do supremo tribunal federal, não, meu senhor.
- trabalha como?
- sou poeta.
- como?
- sou jornalista.
- ah... tevê grobo?
- isso. tipo globo.
- não te vi tevê grobo.
- nã... mas não na globo.
- band news?
- nã... sou do jornalismo impresso, trabalho como repórter ocasional. jornalismo gonzo, percebes? tipo hunter. escrevo prosa poética, com lisergia, mas em jornalismo. crônicas, resenhas e pequenas veleidades do jornalismo cultural. tipo o norman. curto o noman. tu curtes o norman?
- ah - ele me olha confuso - era essa a idéia. mas volta à carga rapidinho
- meu irmão senado gabinete romeu tuma... secretário.
- então teu irmão trabalha como secretário no gabinete do romeu tuma?
- tuma.
- bacana. que simpático é o tuma...
- você não trabalha senado?
- não... não...
- não quer senado? ganha bem.
- oh. imagino que sim.
- por que não senado?
- porque o ambiente é escr*to, né? imagina ter que conviver com aqueles bandidos. tipo tuma...
- sim. braxileiro bandido.
- exato. braxileiro bandido.
- serra bandido, né?
subo o vidro da janela e ligo o ipods. the jesus and mary chain. listen to the girl as she takes on half the world...
mister yee corta à direita sem dar signal.

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12 novembro 2008

grandes shows que eu perdi

"if i ever want to fly: mulholland drive. i am alive. hollywood is under me. i'm martin sheen, i'm steve mcqueen, i'm jimmy dean..."
(michael stipe)

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11 novembro 2008

anjos da noite

- ei, guria, tu curtes obama?
um programa em homenagem ao barackão:
o jazz engajado dos anos 1950 e 1960.
com sonny rollins, max roach e duke ellington.
hoje, às 22h, no 'anjos da noite', pela cultura fm do distrito federal.
http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o 'anjos da noite' é um ato político dos ativistas do TPB.

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09 novembro 2008

jesus, maria, josé

"i wanna die just like jesus christ
i wanna die on a bed of spikes
i wanna die come see paradise
e wanna die just like jesus christ
e wanna die just like jfk
i wanna die on a sunny day
i wanna die just like jfk
i wanna die in the usa
i wanna die, i wanna die
i wouldn’t sell my soul
but i’d hang for this
i gotta get my goal
cause i’d hang for this"
(jim & william reid)

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07 novembro 2008

the tangerine dream

me acontece toda vez que abro o armário da cozinha pra pegar um envelope de suco industrial diet em pó. sabor tangerine.
abro a porta do armário e me bate nas narinas um mui familar e atraente cheirinho de sinsemilla. a cada vez se renova meu espanto e sempre me pergunto baixinho: oh, sinsemilla?
mesmo sabendo que é apenas o cheirinho do chá de carqueja oakter.

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the poetry as it happens when it happens

a guria, ainda aturdida, procurou o poeta.
estava afogueda, tropeçando nas palavras.
nem disse bom dia.
te digo que custei a entender sobre o que se referia...
- você já comeu do congelado? eu acho que vai me dar é dordebarriga.
- barriga?
- acho que o cookie vai me dar uma dordebarriga.
- pode ser. nunca congelei um cookie pra comer después.
- dordebarrigadasbrabas.
- pode ser mesmo. eis o risco do jogo, once ya take the drugs.
- a guria diz: cookie xenical.
- e o poeta diria que, pra ele, um cookie xenical não seria tão mal...
- me too. tô precisando. sabe como é... uns cinco quilinhos.
- que nada. tu fica gostosa com os cinco quilos extras.
- não quero ser gostosa.
- rabão.
- rapá... olha como fala... não tem mulher melancia aqui não.
- coxão, rabão, vou metendo a mão.
- quê? comeu cookie estragado?
- eu curto a sutileza do flerte, tu não?
- tu é o poeta, mas eu não sou a guria, não.
- ah. então não curtiu the dialogue?
- qual dialogue? não li, não...
- pois deveria ler mais o TPB.
- mas qual diálogo? este aqui mesmo? o diálogo do rabão? duvido que você publique este aqui... duvido.
- por que? acha lírico em demasia?
- pago quarenta mangos. aqueles quarenta que voaram.
- boa. me botou pilha.
- bom... vamos ver tu mostrar a finesse.
- bueno. vai entrar agorinha mesmo. aguenta dez minutos que já sai.
- ha. será o primeiro diálogo true, verídico, da história da guria e do poeta. o resto é tudo fake.
- tu que pensas, guria, tu que pensas.

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the poetry as a sexual behaviour

- me diz, guria, então tu curtes poesia?
- neruda, vinicius, pessoa, quintana...
- que bacana, quintana.
- adoro poesia!
- tens sorte, pois sou poeta.
- poeta mesmo? você escreve?
- escrevo, declamo, invento.
- nunca estive com um inventor antes...
- a poesia é uma constante invenção, guria.
- nunca estive com um poeta!
- em que sentido?
- eu digo que nunca conheci um poeta antes.
- então, te pergunto, tu nunca se relacionou com um poeta?
- e o que você chama de... se relacionar?
- relacionar é um termo vago... serve para indicar desde estabilidade matrimonial até transas esporádicas, ou paixões febris ou mesmo uma legítima amizade colorida... em alguns casos, até um simples flerte consentido entra em "relacionar", não é verdade?
- nossa... que resposta...
- como dizem os poetas gringos, all shapes and sizes.
- não... nunca me relacionei com um poeta.
- tens sorte, guria, sou poeta.

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abstração

desvio o olhar
para as tuas sobrancelhas
grossas escuras
te adivinho a cor dos pêlos
te adivinho a textura, odor, comprimento
finjo contar teus cílios, sempre me perco

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pagar peitinho

the breaking news do noticiário internacional:
"Polônia - 12h44 - Dorota Krzysztofek recebeu uma advertência judicial por ter feito topless em praia pública da cidade polonesa de Szczecin. Dorota terá de pagar multa de 150 zlotys (pouco mais de R$ 100), além dos custos do processo. Dorota alegou que a ausência de proibição explícita da prática de topless a torna inocente. Para ela, não houve ofensa a terceiros. Pelo contrário, ela diz que a maioria dos presentes na ocasião decidiu testemunhar a seu favor."

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06 novembro 2008

the dress code

achei bacana a fusão itaú & unibanco. te digo que é justo que os dois piores bancos do brazil se tornem um único - e, com sorte, ainda pior. assim o bradesco ainda sobe uma merecida posição no ranking do descaso com os clientes otários.
há um par de anos, por exemplo, atrasei um dia o pagamento do condomínio do the double tree park - e pronto - foi o suficiente para me f*der por não poder mais efetuar o pagamento em um caixa-eletrônico qualquer e ter que ficar quarenta e oito minutos (contados) em pé na fila do itaú diante de uma única funcionária com ar de enfado existencial - a outra caixa era exclusiva para idosos, gestantes, inválidos, aleijas e freaks em geral. na saída, dei de cara com o gerente e fui lhe falar como eu estava feliz por não ser correntista do itaú e, por tanto, nunca mais precisar entrar lá dentro.
pois bem, hoje eu tive de ir lá novamente. no itaú dos infernos. acordei cedo hoje, seis da manhã, pra poder entrar logo naquela porquêra, enfiar meu dinheiro goeladentro do caixa-automático e sair de lá o mais ligeiro possível, amarfanhando na minha mão o recibo de pagamento que não confirma o valor declarado por mim, pois está sujeito à verificação após o fim do expediente.
às seis e doze da madrugada, pelo horário brazilieiro de verão, eu subo as escadas da agência do itaú à aclimation avenue. vou abrir a porta da agência e - clang - está fechada. trancada. um cartaz, ali ao lado, esclarece que o atendimento maquinal começa às seis horas. a porta está fechada, no entanto, trancada. uma porta daquelas que só abrem quando o correntista (uh) introduz o cartão do banco no leitor magnético (ah) e passa-o pela fresta horizontal disparando uma luzinha verde e liberando a trava clang da puerta. para sua segurança.
sentei na escada. fiquei sentando, ali no bafo da garoa, imaginando que bizarro um banco se recusar a receber dinheiro. estava sem i-pod, um erro, e tive de me distrair espiando as gostosas que desciam pela avenida no rumo do aclimation park. existem gostosas n´aclimação, sim, muitas, mas é bem impressionante como nenhuma - nenhuminha - dessas gurias pratica jogging no park de manhãzinha. deve ser por isso que as academias vivem abarrotadas.
estava ali, sentado na garoa, a apreciar o gás carbônico e as barangas da aclimation avenue, quando um senhor distinto - grisalho, terno bem cortado, calça de linho, pisante italiano e aquele adorável ar apressado de corporate man às seis da matina - desceu do carro encostado no meio-fio. quando o camarada despontou na calçada, sem erro, eu já sabia que era pro itaú que ele vinha em seu batidão.
batata. com licença, meu senhor, me permita entrar contigo na agência, com todo o respeito, pois preciso arcar com uma despesa que vence hoje, mas, como não sou correntista, não tenho meio de abrir a porta, veja só, situação...
o senhor me olhou de cima pra baixo. deu um passo pra trás. sorriu e me deixou entrar no itaú antes dele. segurou a porta para minha passagem. agradeci a gentileza com um menear de cabeça. imagino que a minha blusa grená, esgazeada, desbotada, manchada de água sanitária no meio da pança e vestida ao contrário, com as costuras para fora, tenha causado boa impressão. no corporate world, os bacanas sabem que se vestir bem é meio caminho andado. já dizia o chapa john pothead.

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05 novembro 2008

proteção

Para sua segurança, iremos sempre pedir sua senha quando você acessar áreas que contenham suas informações pessoais.

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04 novembro 2008

radio live transmission

gosto de dormir, gosto muito de dormir
o metabolismo cai, o corpo se limita às funções vitais
as melhores horas do dia, quando estou a dormir

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obina

esperas ler aqui uma posição isenta sobre o sufrágio nos states?
te digo que passei esses últimos dias a analisar detidamente a conjuntura política e financeira internacional, a cobertura da mídia e o perfil do eleitorado estadunidense.
de maneira que já fechei aqui minhas interpretações sobre a eleição de hoje. me permito fazer minhas análises a partir de dois cenários possíveis.
primeiro cenário: john mccain ganha as eleições.
análise: obama perdeu porque é negão.
segundo cenário: barack obama ganha as eleições.
análise: obama ganhou porque é negão.

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sleepless in seattle

economia doméstica sucks. em tempos de recessão, crisis internacional, fusão entre megacorporações e quebra das bolsas de valores, entrei num clima de economizar uns mangotes. de tal modo que dediquei parte da manhã para dar uma batida nos dois supermercados aqui mais próximos do the double tree park. afinal, economizar uns tostões demanda esforço físico, preparo psicológico, apurado senso de observação e um relativamente grande tempo ocioso.
fui primeiro ao supermercado dany, à rua josé getúlio, porque tem uma guria que trabalha de caixa ali que é uma gracinha. acontece que o dany é um estabelecimento modesto, voltado para os consumidores que não se importam de ter apenas uma única marca de pizza congelada à sua disposição (sadia, eca). além de sua funcionária, o dany é muito atraente também pela padaria e pelo hortifruti. uma salada mix (tiras de alfaze, agrião, cenoira e beterraba acondicionadas em uma bandeja de isopor) sai por módicos 2,98 dinheiros - enquanto no supermercado concorrente, o hirota, uma salada mix em muito semelhante mas levemente mais chic (graças ao acréscimo de ridículos três tomates anões) não sai por menos do que hiperinflacionados 8,20 dinheiros. de todo modo, o supermercado hirota, à rua loureiro da cruz esquina com avenida d´aclimação, tem lá seu apelo. tenho em muito boa conta seu açougue - com suas tenras carnes vermelhas fresquinhas sobressaíndo-se diante dos cortes arroxeados de anteontem que o dany exibe na maior cara de pau. de resto, os preços flutuam daqui prali em permanente oscilação, e completar minha cesta básica beat vira um fluxo constante de centavos entre um e outro mercado.
te digo isso porque, então, esta manhã, eu entrava-e-saía pelo térreo do the double tree park, carregando sacolas de plástico, cruzando o hall dos elevadores. foi quando encontrei mais uma vez meu vizinho brito, the oldman next door. pela primeira vez em nosso longo e algo tempestuoso convívio, pude ver brito sem que ele estivesse fumando um cigarro e/ou segurando o maço na mão.
brito estava dormindo. brito estava sentado, capotado, num dos espaçosos e confortáveis sofás do átrio do double tree (duzentos e noventa mensais de condomínio). justamente o sofá mais pegado à porta da academia de malhação - onde, àquela hora, os almofadinhas do residencial estavam entretidos a puxar ferro, exibindo shorts sintéticos e camisetas de regata. e brito, alheio à geração saúde, estava capotado no sofá. tirando uma pestana. puxando um ronco. pagando um soninho. dando um crash. brito até ronronava, de leve, assim bem baixinho, bem discretamente. te digo que o brito é um camarada que sabe viver.
i dig old people.

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anjos da noite

- ei, guria, tu curtes the rolling stones?
o clássico 'beggars banquet', o grande circo do rock and roll e uma banda chamada the dirty mac.
hoje, às 22h, no 'anjos da noite', pela cultura fm do distrito federal.
http://www.movimentocalango.com.br/radiocultura.asp
o 'anjos da noite' é uma gentileza dos empreendedores do TPB.

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03 novembro 2008

coçando o saco e ouvindo blues

fico sentado em meu sofá beat, afundado, enterrado nas almofadas, esparramado por horas e horas, com aquele ânimo de um personagem de jim jarmusch. às vezes acho que a minha vida é um longa longuíssima-metragem de jim jarmusch. em tempo real e tal. a história não anda, o personagem é paradão, mas a trilha-sonora é bem bacana. então aumento um grau os stones na vitrola. espio a grande cidade a se espalhar ali do lado de lá da janela.
Me, I'm waiting so patiently
Lying on the floor
I'm just trying to do my jig-saw puzzle
Before it rains anymore
te fiz um blues, guria. te digo que este verão vai ser de matar. esperando a tarde passar. uma depois da outra depois da outra. aumentando a vitrola mais um grau para a grande cidade, tão distante, ficar um pouco mais silenciosa.

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02 novembro 2008

nada sabia da chuva azul

tô lendo aqui joão cabral. relendo o cão sem plumas. te digo que dá vontade de sentar no chão e chorar.
nunca mais escrever uma única pa-la-vra.

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01 novembro 2008

celebridades dois

breaking news extraída agorinha do noticiário de chiques e famosos:
"juliana paes quer engravidar depois da novela"
pôrra... mas bem na hora do futebol?

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