The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

29 maio 2006

the naked gun

a figura patética do homem nu sentado diante do teclado. sem roupas, sem vaidades. a necessidade de ser honesto, sincero por escrito o fez deixar de lado filtros e imposturas. daí escrever pelado diante do microcomputador. uma brilhante idéia, ou assim lhe pareceu. como se a nudez lhe devolvesse um estado primeiro de pureza e virgindade de idéias, como a folha branca do calhamaço que não amis existe. como a tela branca de um processador de texto, ainda inerte. como se apenas a nudez física pudesse jogar por terra todos os personagens mancos que lhe atrapalham as idéias e atravessavam o pensamento. como se apenas com a nudez pudesse atingir o grau de simplicidade que buscava por escrito. porque esse é o verdadeiro oposto da prepotência, decidiu, enquanto elocubrava em voz alta para seus próprios pentelhos. a arrogância do narrador onisciente dispensada como uma bermuda velha. como uma cueca rasgada. a nudez incisiva, obscena, definitiva - não tinha pra onde desviarem os olhares, não tinha sequer como olhar pela janela, as persianas fechadas.
mas não deu certo. quase parecia um hippie frouxo, ali sentado, com a bunda branca sobre a cadeira e a barriga cansada, trancado dentro de casa, tentando tentando tentando. quase parecia um exilado nudista de inverno cansado de tanta verdade, tanta vaidade.

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