The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

11 maio 2006

salve o cinema

o top cine ficava ali na avenida paulista.
ao lado do prédio da gazeta, do lado de cá da rua, em frente à fnac e tals. na bela vista. acho que foi o primeiro cinema que freqüentei nesta minha temporada sabática na grande megalópole cinzenta.
lembro que fui ver "para sempre mozart", do godard. e dei uma cochiladinha feliz. mais bacana foi ver "uma mulher é uma mulher", da primeira fase do godard, antes do mozart, na época da ana karina, quando o cara era bem mais divertido e bem menos cabecinha.
além de godard, passaram ali pelo top cine truffaut, resnais, chabrol, rohmer, malle, rivette, ozon e essa francesada toda saída da nouvelle vague e vizinhanças. isso em apenas um ano de cinefilia paulistana, esse último ano.
na semana passada, nem faz muito, pude ver uma cópia novinha de "pele de asno", um musical dos anos sessenta, do jacques demy, com músicas do michel legrand, aquele francês amigo do luizinho eça - um musical meio kitsch, meio psicodélico; meio fábula infantil, meio lisérgico. sobre um barrigudo rei que fica viúvo e resolve se casar com a mulher mais bela do reino. ou seja, resolve se casar com a própria filha, que é a catherine deneuve - logicamente a catherine deneuve é a mulher mais bela do reino (a brigitte bardot devia ser de um país vizinho). acontece que a catherine deneuve não encara com muito tesão esse lance de se unir em núpcias com o papito. e se manda. foge pra viver beatmente no meio da floresta, disfarçando-se toscamente com a tal "pele de asno" que dá nome à aventura - isso até aparecer o príncipe encantado mauriçola que vai tirar ela daquele lugar e blablablá.
no início deste ano, lembro que rolou uma mostra hal hartley no top cine. por ali vi ainda wong kar-wai, bertolucci, visconti e outros bacanas de ontem e hoje.
mas hoje o top cine fecha a porta das duas salas. fim de serviços.
te digo que eu ia sempre ao top cine. porque passava filmes de verdade, filmes necessários. porque ficava mais perto aqui da aclimation, subindo a paulista. porque o ingresso era mais barato. porque não precisava chegar uma hora antes pra segurar ingresso. porque as salas eram grandes e até dava pra sentar bem longe de casais pipoqueiros e comadres parlantes. porque não passava comercial do unibanco antes do filme. porque não tinha projeção digital. porque os dois ou três funcionários eram sorridentes e meio chapados. porque dava pra comprar pôsteres de filmes bacanas (um jarmusch e um sganzerla decoram meu apê beat). porque tu corria o risco de ficar batendo papo sobre godard e ana karina com o gerente da bagaça antes de a sessão começar.
agora não mais. godard e ana karina foram embora.
e cineminha é ali no shopping center.

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