The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

09 junho 2006

minha vida sem mim

o autorama do plano piloto. o asfalto recapeado ano eleitoral. o asfalto desliza macio sob as rodas inquietas de meu golzinho fubanga. o bólido prateado risca a noite vazia do planalto central. em silêncio. o toca-fitas engasgado não emite ruído algim. como não sei dirigir sem um rock pesado pra me acalmar, acelero o golzinho mais um bocado. riscando a grande pista deserta reta entre as luzes de mercúrio. como a decolagem de um boeing, daqui pra depois. acelero, já não me importam os pardais. os sensores de radar baterão em minha carcaça metálica e serão rebatidos para o infinito da noite escura. ou assim me parece no silêncio ruidoso de meus pensamentos antigos. tento emprestar novos significados pras velhas avenidas, presse desgastado cotidiano. viver again uma vida que não é mais minha. preciso vivê-la again. indefinidamente. como o personagem de um video game fora de linha. penso e te digo como sou este grande traidor de mim mesmo, grande traidor de nenhuma outra causa a não ser a minha própria. fecho os olhos e sinto o volante entre os dedos. meu game. viver em brasília é uma experiência automotiva. não saberia andar a pé pela asa sul. me perderia nas tesourinhas. jamais chegaria ao lago sul. aqui tão distante das ruas enfartadas de são paulo. do ar poluído. do constante esporro na aprazível aclimation. de seus mendigos, aleijas e cachorros vira-latas. as vozes dos bêbados da pires da motta tarde da noite uma vez mais. acelero um tanto mais. um pouco mais não faz mal. minha vida sem mim. tanto silêncio assim me incomoda. fazer aquela curva sem frear. dois minutos e quinze segundos para abrir o portão de casa. a minha casa sem mim.

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