mil aclimações
john pothead é um aventureiro. descendo a rua pires da motta à toda, rasgando o silêncio d´aclimação com o grande tubarão bordô, mr potdriver freou bruscamente e dobrou à direita na rua nilo. oh, fuck. o que se passa?, perguntei, aturdido com a mudança de rumo. potman nem me respondeu, tão transtornado quimicamente estava ele atrás do volante bordô. descemos a rua nilo e chegamos a um trecho inexplorado d´aclimação. parecia o brooklin. parecia pinheiros. parecia outro bairro. um bairro arborizado, de casas com quintais e mansões protegidas por aquele ar pacato próprio dos muros eletrificados. céus, um bairro burguês, que pôrra é essa? a rua nilo desaguou num largo cheio de carros bacanas estacionados em frente ao tennis clube paulista. tênis? e onde estão as britadeiras d´aclimação? as buzinas? um silêncio impenetrável abraçava aquelas ruas. nunca mais chegaremos em casa, nunca mais. terei que abandonar a vida beat e me tornar um grã-fino que joga tênis nas tardes de quarta-feira. meu delírio foi interrompido com a visão alvissareira de uma placa: rua urano. bueno. respirei aliviado. enfim, não tínhamos deixado o sistema solar. mais adiante, à medida que as casas ficavam para trás, dando lugar aos grandes prédios residenciais da especulação imobilária, aquelas ruas me pareciam mais familiares. pude ficar feliz novamente ao avistar a fachada da padaria orquídea pérola. cruzamos a castro alves e, por sorte, lá estava a loureiro da cruz. lá estava o imponente the double tree park residential complex fincado na esquina. onde sempre esteve.
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