The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

01 outubro 2006

how do justify the vote

como bons cidadãos brazileiros, mr john pothead e berna beat embarcamos no grande tubarão bordô. desgovernados, descemos a rua pires da mota na banguela. ao chegar trovejando lá embaixo da ladeira, the potman brecou de repente e, num cavalo de pau, estacionou diligentemente a banheira em um lugar prohibited. "vou ali e já voto. digo, vou ali e já volto."
exercitar o músculo democrático. por aquelas bandas, um arruinado colégio público funcionava como zona eleitoral. ali, de frente à padaria redentor, à sobra de um squat de seis andares com a fachada completamente pichada (hieroglifos pós-modernos pós-punk) e janelas de madeira apodrecidas. oh, a democracia representativa. cabos eleitorais pagavam boca de urna. uma cidadã de maus bofes ameaçou chamar a polícia para tocar dali uma fiscal do prtb (?) que, assustada, saiu reclamando do destempero alheio. cousas com as quais temos que conviver em uma saudável democracia. espalhados pelas calçadas, santinhos do pv justificavam a existência do partido verde: suas cores primaveris emprestavam um ar menos cinzento à infecta urbe.
a vida no degredo. exilados estéticos que somos nós dois, pothead e eu, nos embrenhamos com detreza gonzo naquele ambiente decrépito, orientados pelos cartazes de cartolina com a palavra "justificativa" rasurada por algum analfabeto funcional (escola pública, papito, escola pública). estávamos ali, na plenitude de nosso espírito beat patriótico, para justificar nosso voto. pra modo de não haver complicação futura com a justiça eleitoral, pro nada consta de nossa ficha se manter alvo e íntegro, de modo que possamos tirar o passaporte - este que é o mais importante documento para um brazilian citizen.
justificar o voto. depois de copiar diligentemente o número de meu registro eleitoral nas duas vias de minha justificativa, atinei, de pé na fila, o quão cretina é esta expressão "justificar o voto" para o que fazíamos ali naquele instante de providencial ufanismo democrático.
oras, conheço várias maneiras de justificar um voto. do tipo: voto no lula por que ele é um camarada ético. ou: voto na heloísa helena pois ela me parece uma mulher equilibrada. e ainda: voto no cristovam por que ele é um estadista. talvez até: voto no eymael por que acredito na democracia cristã. sinceramente, todas essas seriam justificativas, insanas talvez, mas justificativas. seriam justificar o voto. até mesmo dizer que voto no geraldo para mudar este país. para moralizar.
isso tudo, amigos, seria justificar o voto.
nada parecido com copiar teu registro eleitoral, rascunhar teu nome completo um par de vezes, declinar o nome da mãe (apenas da mãe; o pai não importa aqui, pois não se sabe ao certo, é assunto delicado em terra de bastards) e imitar num papelzinho aquela assinatura púbere que tu fez impensadamente há anos no registro geral desta república federativa.
de qualquer maneira, john pothead e berna beat cumpriram a contento seu "direito" como cidadãos. agradeço, assim, ao governo federal e às instituições democráticas por possibilitarem mais uma vez este nobre momento.

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