the urban poetry (now)
- tu curtes poesia, guria?
- oh. sim. adoro. mas por que?
- sou poeta.
- de verdade?
- sim. sou poeta.
- puxa...
- tu já tinha conhecido pessoalmente um poeta? antes de mim?
- não. nunca.
- pois é, então. aqui estou. pode me perguntar cousas e tal...
- qual é seu signo?
- desculpe, pequena. mas isso é cousa de bicha.
- como assim?
- horóscopo.
- mas um poeta não pode ter preconceitos...
- não é preconceito. poesia é uma coisa. signo é outra. signo é cousa de bicha.
- tudo bem... então me diz... você é alto... quanto você mede? isso não é coisa de bicha, né?
- tenho 1m94. descalço.
- boa resposta.
- não quer me fazer perguntas mais sensatas? tipo sobre o que eu escrevo, sobre meu imaginário e tal? sou poeta, pôrra.
- sim. já ia perguntar sobre seu trabalho...
- pois é. sou poeta. escrevo sobre a cidade. sobre as pessoas e a cidade.
- interessante...
- tu curtes poesia urbana?
- sim... mas então você fica andando pelos lugares a observar as pessoas, as coisas... enfim?
- isso. a cidade move minha poesia.
- que tipo de lugares você freqüenta? praças?
- praças e parques públicos. e ruas movimentadas do centro. prédios abandonados e perais. cortiços e latrinas. lugares cinzentos e fétidos e inóspitos. a poesia, pequena, pode estar dentro da lata de lixo revirada por um cão sarnento.
- sabe, eu adoro renato russo e cazuza e nei lisboa. esses são os caras pra mim.
- mas e entre os poetas?
- você gosta de nei lisboa?
- bacana, guria. ele é bacana. mas precisa sair de porto alegre às vezes.
- por que diz isso?
- porque os artistas precisam se surpreender com as cidades.
- você tem nome artístico?
- me chamam de berna beat.
- o que você procura aqui? divulgar seu trabalho?
- nã. procuro fãs.
- ahn... mas como assim? egotrip?
- quantos anos tu tens mesmo, guria? perdones.
- tenho vinte.
- bueno. já pode entrar pro fan club.
<< Home