o deserto vermelho
acordei às cinco e tanto da manhã. sempre acordo às cinco e pouco da manhã pra ir no banheiro. mas hoje acordei mais tarde, acordei às cinco e tanto. quando abri a porta do quarto, em meu caminho até o cavalheiros, percebi uma estranha luz vinda da janela da sala. décimo-sexto andar, tu sabes, cousas estranhas pela janela all the time. mesmo assim, aquela vermelhidão era peculiar aos meus olhos sonados. apertei a bexiga mais um bocado. apontei na varanda para ver melhor o vermelhar. o céu plúmbeo carregado pesado estufado sobre as poucas janelas acesas. e lá no horizonte, em vez da azul montanha habitual, estendia-se uma silhueta negra de morte, de escapamento industrial, fuligem e gases tóxicos. presumo. essa silhueta se chocando mais acima com o vermelho esmaecido alaranjado do alvorecer físico-químico dos raios solares reagindo naqueles gases todos. eu te digo que nunca a aprazível conurbação chamada são paulo me pareceu assim tão blade runner. sim, tirei um punhado de photos desse momento, photos que não ficaram bacanas devido à baixa luz avermelhada, à visão esturricada e à inoperância do retratista em apreender naturezas mortas. então fui dormir again - depois de passar pelo cavalheiros - eu fui dormir com a estranha sensação de conforto de morar dentro de uma ficção cientítica que deu errado. destopia, subcivilização. não verás país nenhum.
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