The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

26 setembro 2007

the meat i eat for dinner must be hang up for a week

o açougue fica lá atrás no supermercado. ocupa toda a parede dos fundos, com uma portinhola que dá para o frigorífico. ali dentro, longe dos olhos obsequiosos e enojados de vegans e mocinhas pueris, estão dependuradas e refrigeradas algumas toneladas de carne vermelha, provenientes do abate clandestino de bovinos na grande são paulo.
e as pessoas fazem fila por ali, no açougue do supermercado dany, todas as manhãs. para comprar carne para o almoço. fazem fila esperando a atenção passageira do açougueiro. afinal esse é um dos homens mais importantes e disputados do dany, mais até que o padeiro, que o moço que pesa os legumes, mais até que a japinha sorridente que cuida da máquina de cartão de crédito.
as pessoas pedem carne moída ao gentil rapaz de avental ensangüentado. meio quilo de acem moído. três bifes de picanha. uma ponta de lagarto caprichada, 17 asas e 47 corações de galinha. por obséquio. todos são gentis com o açougueiro. talvez em deferência ao avental ensangüentado. talvez persuadidos pelo facão. talvez por apenas boa educação.
mas eu sou como as hienas da savana africana. não chego ao supermercado sabendo o que vou pedir ao diligente rapaz com o facão ensangüentado. não escolho minha presa. apenas bato o olho na vitrine do açougue e cato ali as bandejas preparadas dois, três dias atrás. escolho o naco de carne menos arroxeado. e sigo adiante. deixo os gourmets e as donas-de-casa d´aclimação discutindo peças e cortes com o misericordioso açougueiro ensangüentado.

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