The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

10 outubro 2008

samba do avião

não sei se acontece só comigo. mas sempre imagino o avião continuando reto quando acaba a pista de congonhas. aproveito tal pressentimento e preparo meu ipod para a ocasião solene. programo uma trilha bem bacana para my very last seconds. porque dá bem tempo de planejar direito o troço. desta vez o avião ficou um tempão parado na cabeceira da pista, uns oito minutos, esperando desengarrafar a pista e ser liberado para sua tentativa de alçar vôo entre os prédios cinzentos. escolhi sonic youth, um dos meus discos preferidos, o "washing machine", fui até a faixa "no queen blues".
hey! hey! where you're goin' in such a hurry?, pergunta thurston moore. take it easy girl and tell me a story, move on over here, slow it down, tell me why you've been, run out of town...
me espremo no aprazível assento. poltrona d, corredor. batuco em minha coxa, minha coxa gangrenada no abraço metálico da poltrona, acompanhando as batidas de steve shelley nas bigornas de meus ouvidos. a canção já vai para seu final, entrando no quarto minuto, quando a batida acelera, as turbinas ronronam forte, as guitarras se embaraçam, o avião arranca, a tempestade de estática inunda meus dutos auriculares, cresço o volume dois graus, a aeronave se despreende do chão, fecho os olhos e me deixo invadir pelo torpor noise, a aeronave rasga o ar espesso e grudento da grande cidade em direção às nuvens elétricas cinzentas.
já estamos entre elas, as nuvens elétricas cinzentas, quando thurston moore leva na maciota a introdução de "panty lies", a bela canção que kim gordon escreveu a respeito de uma guria que gosta de vestir sua calça colada na bunda, sem nada por debaixo. don't just stare, cause she's not wearing underwear...
e de repente não penso mais em desastres aéreos, se tu me entendes.

|