The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

04 setembro 2009

no alarms, no surprises

tenho alguns reais sobrando na minha conta corrente beatnik.
tento, em vão, aplicá-los em algum esquema financeiro, algum fundo de investimento, alguma espécie de título bancário que me dê a falsa mas apaziguadora sensação de que estou-ganhando-dinheiro-com-o-sistema-capitalista-de-maneira-lícita-e-sóbria. mas é complicado, percebe? fui à agência e o gerente, que mais parecia um standing do giannechini em algum filme de baixo orçamento, não se revelou exatamente entusiasmado com minha hipster figura. abriu o extrato de minha andrajosa conta corrente em seu computador gerencial hi-tech e não pôde conter um discreto suspiro de enfado, manhã de sexta-feira. depois de varrer minha vida ekonomica em ambiente ms-dos, anêmicos números esverdeados, chegou à conclusão algo rasteyra de que aquela ali não era minha agência de origem. pois é, não é, não, meu senhor, mas que que tem? só por isso não vai rolar? me disse que preciso ir à minha agência primeira, que dali fugiria de suas atribuições gerenciais. mas, meu kamarada, lhe respondi, minha agência tal fica em outra cidade, outro estado, longe daqui. pois é, então, que eu tentasse por telefone. 0030, finalizou, com um discreto meneio de cabeça. então voltei pro the double tree park com meus reais sobrantes e de pronto liguei pro tal telephone do banco. discando número da agência, número da conta corrente, senha numérica, senha alfanumérica, o resultado do bicho de ontem, o eskambau alado. depois de alguns minutos de senhas e sequências matriciais, pude estar a ouvir uma gentil e agradável musiquinha enquanto minha ligação - muito importante para nós (eles) - esperava na fila de atendimento pessoal. después comuniquei-me com a teleoperadora a cerca de meu sobrar de reais e, após esperar angustiosos momentos de silêncio entremeados ao nosso proto-diálogo, fui docemente encaminhando a um diligente rapaz do setor de investimentos. pois coube a ele me esclarecer, respeitosa mas peremptoriamente, que não poderia pegar meus sobrantes reais e simplesmente somá-los a um investimento anterior que eu já tinha, e que mui burguesamente mantive sempre a prudente distância de meu fluxo financeiro regular - para que não contaminasse minha poesia beat com as impurezas do vil metal. o diligente rapaz do setor de investimentos disse que eu tinha que manter aquele investimento lá no canto dele, e que estes novos reais sobrantes que agora despencavam de minha conta corrente precisavam ganhar uma segunda forma de rendimento. que eu a escolhesse. perguntou a mim qual tipo de aplicação seria de meu agrado. perguntou se eu poderia dispor, digamos, do tempo de dois anos para dar a esses reais, para que eles se virassem sem mim, e pudessem assim crescer em alto rendimento, longe de meus dedos inábeis para transações financeiras, e que eu mal os reconheceria quando nos reencontrássemos, passado esse tempo.
eu agradeci ao rapaz, muito diligente de fato. mas tive de deixá-lo saber que, pelo que me consta, em dois anos poderemos muito bem estar mortos - eu e ele, eu ou ele, vá saber ao certo. não seria essa a tal condição humana? feitos que somos da mesma substância dos sonhos...
agradeci a ajuda, pedi pra ele relaxar, to take a break, dar um tempo, e desliguei. vou gastar esses meus reais sobrando com tóxico & p*ta.

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