The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

29 janeiro 2010

campo de centeio

"Mas eu nem estava ouvindo. Estava pensando noutro troço, uma coisa amalucada.

- Você sabe o quê que eu quero ser? - perguntei a ela. - Sabe o que é que eu queria ser? Se pudesse fazer a merda da escolha?

- O quê? Pára de dizer nome feio.

- Você conhece aquela cantiga 'Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio'? Eu queria...

- A cantiga é 'Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio'! - ela disse. - É dum poema do Robert Burns.

- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.

Mas ela tinha razão. É mesmo 'Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio'. Mas eu não sabia direito.

- Pensei que era 'se alguém agarra alguém' - falei. Seja como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.

A danada da Phoebe ficou calada um tempão. Aí, quando resolveu falar, foi para dizer: - Papai vai te matar.

- Tou pouco ligando se ele me matar - respondi."

(salinger)



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