The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

11 abril 2010

the poetry as a dismissal

virei a noite na rua. bebendo pinga & chutando lata.
- mas, me diz, guria insone, tu curtes poesia?
- por que a pergunta? por acaso você faz versos?
- bebi um bocadito. e os versos que antes se aninhavam à minha volta, agora que te vejo, me escapam.
- os versos estão girando na tua frente? sei como se sente. é a pinga.
- antes fosse, e eles girassem até se cansassem, pois aí cairiam tontos dentro de minhas frases feitas. mas os diabos fogem e passam velozes por debaixo das portas.
- nunca lhe ofereceram a chave de la poesía?
- nã. não te trago chave alguma. mas erro maior seria pensar que é tudo questão de ter a chave cierta na mão.
- a verdade é que não há chave pois não há fechadura. não há segredo a detener la poesía.
- exacto. mas ainda há quem pense que poesia tem hora marcada. que seja questão de hábito. que à poesia se possa amansar, domesticar, fazer cafuné na barriguinha e ensinar uns truques.
- la poesía não busca grabetos, non, nem fica a babar, a abanar lo rabito.
- me escreve um poema pra eu ler?, me pedem isso direto.
- y ainda mais después de tus pingas, por supuesto.
- como se eu pudesse aqui me sentar e te escrever o que tu quiseres de mim, o que seja.
- pero carregas en la estampa o jeito de poeta? por isso te pedem?
- nã. apenas gosto de me dizer poeta. é esse o troco que me cabe pelo deslumbrar-me.
- pois escreba ahora uns versitos para yo, como não?
- escrevo o tempo todo. mas basta que agora me peça pra escrever e pronto, perco a serventia.
- mas, poeta, y tu curtes la poesía?

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