The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

22 maio 2006

colóquio sobre a expressão escrita

- gostei do que você escreveu!
- bacana. brigado.
- gostei de verdade. por que você não escreve sempre assim?
- em que sentido?
- tá muito bom! por que você não escreve assim, muito bem, sempre? tá inteligente, engraçado e audaz.
- gradecido.
- tente ser sempre assim.
- "nem sempre se pode ser deus", diriam os titãs.
- não vejo graça naquelas suas poesias urbanas, sabe? hai kais ruins, ruins.
- percebo. não têm rimas...
- você até escreve bem. mas seus personagens são chaaatos.
- não tenho muitos personagens, reparou?
- pois é. fica sempre aquele negócio de você escrever sobre si mesmo, sobre a aclimação, sobre o john pothead, sobre alguma garota em quem você esbarrou no metrô sentiu tesão e nunca mais viu.
- exato.
- e você é muito chato. por que escrever sobre si mesmo se você não é nada fascinante?
- não sou fascinante, mas sou sincero.
- henry miller escrevia sobre ele próprio, verdade, mas olha a vida que ele levava. ou jack kerouac ou jack london... ou todos esses caras que você gosta de citar.
- bueno. é isso. sou beat.
- beat é demodê.
- escrever é demodê. tu, por exemplo, tu só escreve e-mail. e olhe lá. deve abreviar as palavras, sb?
- a língua é um organismo vivo, para horror seu e de seus amigos escritores fantasmas.
- verdad. a língua ainda está aqui viva. mas estamos tratando de matá-la a pauladas.
- presunçoso.
- quem? teu papo?
- você e seu personagem de si mesmo. sempre cagando verdades e citando músicas em inglês.
- não curtes the flaming lips? eles são do oklahoma e eles são lisérgicos e...
- chato, chato. muito chato também esse papo de maconha.
- perdones.
- quantos anos você tem, cara?

|