The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

15 agosto 2006

drinking sangria in the park

metroviários em greve. a população de são paulo se arrasta pela superfície do planeta. manadas e manadas de pedestres se jogam nos cruzamentos, se amontoam nas calçadas, se lançam sobre as faixas de pedestres. encoxando carros metálicos e avançando sobre as motos do telepizza. as pessoas não podem mais se esconder debaixo da terra. as minhocas saem pra fora. como ratos saindo dos bueiros. como larvas nas fossas nasais de corpses insepultos. as larvas do cadáver de uma megalópole condenada. pessoas se movem lentamente pela urbe cinzenta. cidadãos dão cabeçadas, não sabem mais para onde ir. como baratas tontas em labirintos. subindo sempre mais um sempre mais um se apertando nas lotações lotadas. as baratas baratinadas atrás de uma última dose de inseticida. o helicóptero da polícia dá um rasante entre os arranha-céus. uma tentativa de dispersar a multidão. uma tentativa cretina e inútil. é tarde demais para evitar o colapso urbano. não pára mais de aparecer gente saindo de suas casas, apartamentos, barracos, saindo de debaixo das pontes, de dentro das latrinas. estão escapando das prisões federais de segurança máxima. chamem o marcola para tirar esse povo todo das ruas. chamem o marcola, pôrra. o trânsito enfartado atravanca o asfalto - e os selvagens aproveitam para ganhar o dia entre os muros de concreto, as pichações avant-garde. eu aperto o passo pela rua do paraíso e dou uma última olhadela para o outdoor na esquina da rua vergueiro. onde a flávia alessandra, de costas nuas e bumbum empinado, sugere as mais galopantes fantasias à multidão de párias.

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