The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

15 agosto 2006

ghost in the machine

me acontece às vezes. quando estou diante do teclado metron de meu computer beat. acontece de eu entrar numa espécie de transe beatífico. e fico cego surdo mudo para essa vida outra que se leva do lado de fora de minha mente. em outras palavras, sim, é um surto. tanto que não consigo controlar minha própria força. então as palavras brotam a mil das sinapses canábicas de meu íntimo cerebelo e de lá de cima elas se transmitem em impulsos, em espasmos nervosos, aos empurrões, até as pontas de meus dedos, tão pouco ágeis em momentos menos febris. esses meus dedos de cavalheiro começam a distribuir pequenas porradas pai mei no corpo de meu teclado, catando milho a velocidades inauditas, caindo como uma chuva de bombas israelenses - e muitas vezes detonando a suspensão tecnológica aerodinâmica das teclas do teclado metron, e muitas vezes causando erros de digitação no texto (convém revisar com cuidado), pois a dislexia taquigráfica é um dos vários componentes traiçoeiros deste meu estilo beatnik de prosa torrencial.
de modo que agora há pouco tal cousa me acontecia.
me acontecia de estar aqui, sentado na unidade 901 do the double tree park, redigindo furiosamente qualquer troço desses que necessitam redação furiosa, quando... eu estava exatamente escrevendo de olhos fechados no estilo stevie wonder (às vezes me acontece esse lance chico xavier, esse lance gasparetto de escrever de olhos fechados, e é justamente quando sobe a proporções alarmantes minha dislexia taquigráfica, e é justamente quando me esqueço de salvar o material no disco rígido e tudo corre o sério risco de ir para o além com a mesma presteza que de lá veio), quando senti aqui e ali um problema na harmonia de minha prosa beat, uma nota fora do lugar, um erro de concordância, alguma problemática saliência na musicalidade que estava ali sendo parida em golfadas silábicas. uma melodia entortada.
interrompi todo o processo. o processo de criação vai de 10 a 100 mil. interrompi.
e abri os olhos. olhei ao meu redor. percebi que meus dutos auriculares estavam livres e desimpedidos, sem os tampões de ouvido, mas não era exatamente isso que causou o embaço criativo. pois não necessito realmente de tampoons quando entro numa nóia selvagem dessas... então... o que seria esse som?... o que seria...
deixei meu monólogo interior silenciar por um momento. foi quando pude novamente ouvir a cantilena "jeeesus, jeeesus, jeeeeesus" que me embaralhava as idéias. "jeeesus, jeeesus, jeeeeesus"...
sim. jesus. conheço jesus. mas que pôrra é essa? como assim jesus?
olho para o teclado metron. escrevo a palavra: jesus. tento com maiúscula: Jesus. mas a cantiga não pára, não pára.
uma carpideira continua a fazer sua encomenda a "jeeesus, jeeesus, jeeeeesus".
o barulho do motor da máquina de lavar roupas corta a cantiga com seu infalível ronronar hidráulico consul. duplo enxágue, lavagem delicada.
oh, sim. é a dona maria rosa. trabalhando na cozinha.
com jesus a seu lado.

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