The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

03 julho 2007

holy spirit howl

despreocupado, sou um sujeito despreocupado. gosto de me perder por la gran ciudad. ando pel´aclimação a admirar as árvores, a falar com os passarinhos, a cheirar as bostas de totó. gosto de me misturar com meu habit. descendo pela aclimation avenue, tomava o rumo ancestral da turmaline avenue, repetindo os trajetos de tantas febris tardes... quando meu intrépido espírito de marco polo urbano me fez virar à esquerda e descer pela rua do espírito santo. ali na altura da pizzaria macro. oh, nunca tinha feito isso, tomado esse passo enviesado, dobrado a esquina justamente onde deveria seguir reto. senti esse thrill de emoção percorrer minha espinha e avermelhar minhas hemácias por dentro das artérias femurais. a aclimação me será um lugar distinto após este detour, pensei cá comigo, e segui em frente, ao mesmo tempo ansioso pelo porvir e mui desperto para quaisquer novidades urbanas. saberia que, dali pra frente, estaria sozinho a descer pela rua do espírito santo. seriam outros os passarinhos a me seguir, assim como seriam outras as árvores a abrigar seus ninhos. até mesmo as matérias fecais epidêmicas pelo calçamento teriam vindo da bunda de outros, de diferentes, de nunca antes vistos totós. tudo era novo. e tudo se ilumina. um mundo selvagem ainda a conhecer.
o que fazes aqui?, me perguntou o mendigo david lynch sob a rota marquise.
procuro o espírito santo, respondi assim de imediato, com o som de minhas próprias palavras tomando novos e inauditos significados para meus próprios ouvidos.
não esperes encontrar em outros quarteirões aquilo que, em verdade, carregas dentro de ti.
o mendigo david lynch me disse isso e ao me dizer me olhou fundo em meus olhos tal como se percebesse ali toda minh´alma. por um breve instante, não sabia mais onde estava, nem com quem falava, já me faltavam as palavras que sempre me foram abundantes por todavida.
o mendigo david lynch, abocanhando duma única dentada a metade de uma pizza macro bolachenta de mussarela amarelada amanhecida, assim pontuou com um sonoro peido o fim de sua ponderação. tu não te foges de ti.
dei as costas e voltei, em silêncio, aos quarteirões conhecidos da avenida da aclimação.

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