The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

27 setembro 2007

freak old people

meus vizinhos fedem.
é bem chato ter que dizer isso. assim por extenso, visto de longe, parece algo esnobe de se dizer. parece babaca. parece preconceituoso. é verdade. mas também é verdade que fedem.
tudo bem que quando eu morava no 901, minha vizinha era a loirinha joss stone, jovem e solteira e promíscua, um símbolo sexual aqui no the double tree park. então qualquer comparação com os novos vizinhos é injusta e depravada. os vizinhos aqui no 1604 são um casal de velhos freaks. assim...
o velho é descabelado e enrugado. fuma non stop. parece um cinzeiro ambulante em calças de moleton. non stop smoking. ele vive no elevador, espalhando sua catinga pelos corredores de vários andares. também é conhecido por fazer a ronda das lixeiras. toda manhã, ele vai até o vigésimo andar e desce, pelas escadas, revirando o lixo dos condôminos. parece que já conseguiu montar um microcomputador pessoal com esse esquema. certamente conseguiu ampliar e dispersar sua fedentina.
mas o velho sai de casa porque os apartamentos do the double tree park são pequenos. e ele não aguenta ficar lá dentro com a velha. a mulher dele. porque a velha é ainda mais descabelada e enrugada que ele. ainda não pude perceber se ela também fede. provavelmente deve feder, pois é casada com um cinzeiro ambulante em calças de moleton. sempre que encontro ela no elevador, eu prendo a respiração e sorrio amarelo dizendo "bom dia". e ela pelo menos me responde. o velho, não. o velho apenas geme algo em suas entranhas.
e o apartamento dos dois velhos freaks fede de maneira obscena. logo pela manhã, quando o velho sai para sua rotina diária entre as lixeiras do prédio, o fedor de uma noite inteira de cigarros non stop escapa pela porta do 1605 e empesteia todo o corredor. a ponto de entrar por debaixo de minha porta, driblando até a barreira da cobrinha-prende-porta. tenho que acender um incenso de almíscar para rebater.
depois, no final da manhã, tipo 11 horas... é o cheiro de gás de cozinha que escapa do 1605 e me faz acender mais um incenso. o metano é um gás inflamável criado pela decomposição do lixo caseiro. acho que é metano o gás que sai da fétida alcova dos velhos freaks. um dia desses, the double tree park vai pelos ares. bou. e eu já sei o porquê.
depois do fedor do metano, o fedor que escapa pelas frestas do 1605 é ainda mais revoltante. é o cheirinho da comida caseira preparada com esmero pela velhinha. de revirar o estômago. e é esse o cheiro que começa a invadir meu cafofo beat no momento em que batuco estas linhas. me fez perder a fome. não vou almoçar hoje. não vou almoçar nunca mais.
certa vez, bateu aqui o entregador de água. abri a porta e o rapaz estava petrificado. segurava o galão de 20 litros no ombro e me olhava assustado. "que cheiro dos diabos é esse?" percebi em seu olhar um condenatório caráter de censura. como se estivesse diante do responsável por empesteio tamanho. apontei em silêncio a porta vizinha. e olhei pro chão. envergonhado.
certa vez, a dods do 1603 bateu aqui em casa. "esse cheiro de gás, o senhor está sentido?" claro que estou, até um cego sentiria. "o senhor está com o fogão ligado?" não. só uso o fogão pra ferver água. então apontei em silêncio a porta vizinha. e olhei pro chão. envergonhado.
certa vez, o porteiro do the double tree park me ligou pelo interfone. "senhor poeta, com licença, mas o senhor está usando o fogão?" não. só uso o fogão pra ferver água. "mas o senhor está sentindo cheiro de gás no andar?" claro que estou sentindo, meu velho, não há nada que um poeta não sinta.

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