The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

03 novembro 2007

as margaridas não falam

então fui bater um pastel de bacalhau na feira da loureiro da cruz. porque hoje é dia de feira na loureiro da cruz. mandei um caldo de cana por cima da bagaça. passei pela barraquinha dos condimentos, pedi o obséquio de me moerem pimenta do reino. e mais um quilo de pêssegos.
quando voltava ao the double tree park, em frente ao portão da garagem à rua pires da mota, o garagista joãozinho me avisou do recente infortúnio.
"estamos sem luz, senhor poeta, não adianta nem pegar a escada." bueno, camarada, mas são apenas dezesseis andares de escada, dezessete partindo aqui da garagem, vou num pulo. "não, não adianta, porque nem as luzes de emergência das escadas estão funcionando", completou joãozinho. então percebi a enrascada.
joãozinho estava parado na calçada diante do the double. porque seu posto (o comando do garagista ao lado do portão) estava ocupado pelo fétido senhor brito, amarelo e descabelado, acendendo um cigarro n´outro. comentamos, joãozinho e eu, sobre o campeonato brasileiro por pontos corridos em turno e returno, e suas peculiaridades, sobre o corinthians e o mengão, sobre o são-paulino john pothead. então eronildes, o zelador, chegou com a ordem do dia e colocou joãozinho pra trabalhar.
sem poder subir as escadas, no breu permanente das portas isola fogo, fui tratar da vida. em algum lugar longe do the double tree park. fui o obrigado a tomas as ruas. conhecer melhor a aclimação. bati um pé ligeiro até o aclimation park. parando no caminho para tomar um ar, sentado na parada de ônibus, espiando o movimento dos barcos, digo, o movimento (lento) dos baús pela aclimation avenue.
todos os porteiros e garagistas da rua josé getúlio estavam nas calçadas, atônitos, diante dos portões emperrados por falta de energia elétrica, diante das grades eletrificadas sem eletricidade, diante das grades inúteis e dos inúteis avisos de cuidado, alta tensão, risco de morte.
o aclimation park, no entanto, continuava primaveril em seu sonho de floresta tropical, ali perdido em meio à grande cidade cinzenta. os patos nadavam na lagoa, driblando os coliformes fecais, sem se importarem com a eletropaulo. a guria bacana passava trotando em círculos pela pista de cooper, curtindo seu ipod, wireless, alheia à inatividade das correntes elétricas.
foi quando pensei em virar thoreau. ser hippie, mais uma vez.
pisei na grama, descalço, e tentei puxar papo com um canteiro de margaridas.
me calei quando um totó veio regá-las prontamente, quase me acertando as canelas.
queixo-me às margaridas. mas que bobagem.

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