The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

25 janeiro 2008

Bury me with it

Trabalho no centro financeiro do Brasil. Na avenida paulista. Num espaço cheio computadores, regras corporativas e mulheres com TPM constante. Ganho algum dinheiro. Mais que ganhava quando fazia minhas reportagens beatnik, fotografando e entrevistando a cena underground paulistana, chapado e feliz. Quando quero fumar um cigarro, corro para um pequeno jardim, no primeiro andar, onde fica um curso de inglês. É um jardim simpático, com cadeiras de praça, flores coloridas e caminhos de pedra. Sento num banco, acendo o cigarro e olho para o horizonte. Que não existe mais. Estou emparedado por prédios. Uns espelhados, outros envidraçados, outros com persianas verticais enferrujadas, outros com pastilhas. Não há céu para cair em minha cabeça. Não há virtude em meu coração. Me pergunto. “Qual a vantagem de estar aqui?”. A grana? Não, não é a grana. Por que ela não vale nem um pouquinho disso aqui. A única vantagem é estar vivo. Afinal, eu poderia muito bem estar morto. Como esses sujeitos que morrem todos os dias. Como o cowboy gay do cinema. Como o cara engraçado da Globo.

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