The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

24 janeiro 2008

the poetry as unbearable dream

- oi, guria. tu curtes poesia?
- claro.
- pois eu sou poeta, sabia?
- ah. que bom. então eu sou a mulher de teus sonhos.
- em que sentido?
- em todos que imaginar.
- não creio. como tu poderias ser a mulher de meus sonhos?
- ai, poeta... cadê seu senso de humor?
- meus sonhos são selvagens. não há senso de humor ali. meus sonhos são febris.
- o que aconteceu contigo para ficar assim tão amargo?
- ao contrário. eu te diria que não é amargura, apenas devassidão.
- credo, credinho.
- me diz guria, antes de mim, tu já conhecera um poeta de verdade?
- não. me apresente...
- o poeta, guria, é um atormentado. o poeta é atordoado diariamente por sua própria sensibilidade, por sua própria arte. pense que ser poeta te ocuparia os sentidos e as idéias, ser poeta te impossibilitaria uma vida comum.
- me diz... poeta... você... você é sueco?
- não. eu sou poeta.
- poderia ser um poeta sueco.
- sou poeta. nada mais. ser poeta me define em totalidade.
- senhor poeta atormentadinho... eu preciso ir embora agora. vamos?
- oh. não posso. não posso, guria, não posso ir embora contigo.
- por quê?
- porque se tu fores, de fato, a mulher de meus sonhos, me arruinarás em dois instantes.

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