The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

05 junho 2008

liberdade, liberdade

não tive as manhas de acompanhar o noticiário desportivo desta manhã. é o tipo do troço que gosto de fazer antes do meio-dia enquanto queimo umas torradas hipsters e batuco umas poesias espontâneas aqui em meu computador beat. mas hoje não, nada de debate esportivo. ter que aturar os pó de arroz. então desliguei a tevê e fui ver qual a boa aí pelas ruas d´aclimação. um rolê pelo aprazível barrio.
tomei a josé getúlio quase por acaso. por hábito. porque gosto dos caminhões de tijolos e dos caminhões da ambev que sempre estão por lá a tumultuar o trânsito. bati um cafezinho na padaria madame e desci a tamandaré até a galvão bueno (ôpa) só pra irrigar as pernas com a cafeína recém-adquirida. esta é uma confluência de ruas que sempre me intrigou: josé getúlio e tamandaré e galvão bueno. sempre quis saber onde começa a liberdade exatamente. percebe? onde a aclimação se torna liberdade. penso que descobrir esse momento exato, esse lugar específico, poderia ser o equivalente a tatear o ponto g da grande são paulo.
a churrascaria rod luz, por exemplo, que fica na josé getúlio, disso não há dúvidas, anuncia em sua nota fiscal ser na liberdade. o mapa é impreciso nas grand ciudads. as fronteiras são assim ordenáveis a gosto de quem o queira. ao sabor do mercado imobiliário. por exemplo: o residencial francófono erguido em frente ao rod luz se chama jardins d´acclimation, e não jardins de la liberté... eu te digo que bem já ouvi dizer que a tamandaré, cortando a josé getúlio e a castro alves, sinaliza o início da liberdade. o guia quatro rodas edição 2005 parece referendar essa noção - mas ali adiante a tamandaré sobe o morro e se torna rua apeninos e, definitivamente, a apeninos não fica na liberdade, fica no paraíso. veja você que também já me foi dito que é a pires da mota a responsável por dividir a aclimação e a liberdade, passando bem rente ao the double tree park. mas a pires da mota logo encontra a avenida da aclimação em pessoa... me parece pouco sensato do ponto de vista urbanista, então, que uma rua limítrofe seja tão íntima da rua que carrega o nome do bairro em si. (embora a avenida pompéia comece na água branca.) vá saber.
a rua galvão bueno (ôpa), no entanto, não precisa de dna ou cep. a galvão bueno já está ostensivamente na liberdade. a galvão bueno nasce aqui perto de casa, no sovaco da tamandaré, e, ao contrário dessa, tem suas calçadas iluminadas pelas lanternas chinesas (japonesas?) que servem como chique iluminação urbana nas ruas centrais da liberdade. mais adiante o portão do bairro oriental se descortina em sua elegância milenar e - pronto - estamos oficialmente na liberdade.
e os japas ficam dando banda pelas calçadas, controlando the traffic. assim que cheguei à grand ciudad, eu gostava de ficar de bobeira pela liberdade, só vendo os japas naturalmente being freak entre seus amigos conterrâneos, e ficava me imaginando num filme do kar-wai e tal. mas depois de algumas caminhadas pelo acidentado relevo paulistano, confesso, meio que me deu no saco essas experiências urbano-antropológicas.
mas hoje fiquei lá sentado no banco da praça da liberdade, perto do ponto de táxi, ouvindo the jesus and mary chain nos auriculares de meu ipobre fajutão. as prosts ainda não tinham chegado na avenida da liberdade. era cedo pra elas, dez da manhã, certamente estavam dormindo num daqueles hotéis suspeitos da região, ou gastando num pingado a grana do último programa da noite passada. dei uma volta nos sebos. as prosts da liberdade não são japonesinhas, não. as neusinhas, creio, são as mais disputadas do pedaço e só fazem o serviço nos abastados "balneários" d´aclimação. foi o que me disseram - pois sou moço de família e não freqüento tais ambientes. ah.

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