The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

23 fevereiro 2009

and if the dam breaks open many years too soon

aquele sol de rachar. mormaço de karnaval fazendo a aclimação parecer um saara urbano.
mas te digo que em quinze, vinte minutos, não muito mais que isso, o tempo virou. o sol sumiu, fez-se noite em meu viver. as nuvens baixaram até cobrirem os edifícios do anhangabaú. o edifício copam, pequenino, desapareceu por detrás das nuvens molhadas. soprou um vento daqueles que, um dia, se não agora, anunciarão a hora do juízo final. despencou água do céu como se os deuses quisessem varrer da terra os pekados do karnaval.
se não pôs fim aos eflúvios da festa pagã, certamente o aguaceiro lavou as calçadas d´aclimação de todo o pipi, de todo o cocô de cachorro acumulados numa semana de estio.
tipo katrina. a água descendo a rua pires da mota em cataratas. a água lambendo as sarjetas, afogando as bocas de lobo, inundando a esquina com a josé getúlio. levando junto pedaços e mais pedaços de papelão, os travesseiros e o edredon dos homeless. os carros desciam a pires da mota como jet skis desgovernados, levantando água, furando o sinal e quase atropelando os banhistas perdidos no meio do asfalto. o montinho de terra do canteiro de obras foi parar no meio da rua e fez da chuva um lodaçal, emporcalhando de novo as calçadas recém-lavadas.
as dods na padaria madame saíram correndo, carregando os pãezinhos quentes & úmidos. gritinhos de frenesi e excitação. os tiozinhos na padaria se encostaram no balcão e pediram mais uma dose.
a criançada que estava a brincar na piscina do the double tree park de pronto interrompeu as atividades recreativas. as crianças pularam fora da piscina e, num alarido, correram às suas toalhas, foram atrás de abrigo - antes que se molhassem.
te digo que eu fiz bem o contrário. tirei a roupa e fiquei peladão. então fui aqui na minha varanda beat e fechei a porta atrás de mim. para não ensopar a sala, não ensopar meu sofá hipster. fiquei peladão na varanda apreciando a paisagem. tomando banho de chuva, o vento na cara, a água entrando em meus ouvidos. eu gosto dessas pequenas felicidades fortuitas. tomar um banho de chuva sem nem precisar sair de casa. pequenas felicidades urbanas.

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