The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

08 abril 2009

the poetry as a space left empty

fui abrir uma conta. mudei de banco.
então fui abrir uma conta corrente.
a mocinha me pediu meus dados.
nome, sobrenome, rg, cpf, endereço.
me pediu referências.
me perguntou a profissão.
- sou poeta.
foi quando ela olhou pra mim.
talvez encantada:
- como disse?
- sou jornalista?
- ah...
- jornalista não-praticante.
ela se voltou novamente pro seu monitor.
as letras verdes. estilo ms-dos.
-qual sua empresa?
- sou free lancer.
- sim. mas para qual empresa?
- pois então, sou free-lancer mesmo.
- não tem contrato de trabalho?
- nã.
- certo.
te garanto que a mocinha tentou ser gentil.
deixou em branco o espaço verde,
piscando na tela,
destinado pra empresa onde trabalho.
ela engoliu em seco, tossiu baixinho.
- algum problema?, bem que percebi.
- é o sistema.
- o sistema bancário?
- o sistema não está aceitando esse campo em branco.
- ah. o sistema. então escreve qualquer cousa.
- não posso...
- diz aí que eu trabalho para a vagabundos s/a.
ela sorriu de verdade.
eu acho que até ouvi um riso ligeiro.
- diz aí que trabalho para a the beat poetry inc.
- ah, poeta...
(suspiro)
- mas o que te parece desocupados, miseráveis & associados?
a guria deixou a máquina de lado.
- tu podes não conhecer, mas essa é uma firma multinacional.
ela afastou os papéis sobre a mesa.
- com sede em genebra, na suíça.
ela olhou pra mim: o senhor é poeta então?

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