The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

05 setembro 2009

o último herói paulistano

o velho brito anda sumido. arredio. deve ficar trancado em casa, no 1605, sua senhora passando a chave na porta. horas preso dentro de casa. tardes inteiras dentro de casa. agora que o déspota josé serra & sua ditadura fascista baniram os fumantes do convívio público.
brito, uma espécie de tuaregue do the double tree park, sempre foi um proscrito em nosso residencial nouveau riche. sempre andou pelos cantos, rosnando baixinho, calando à passagem dos demais moradores, fechando a cara para cordiais cumprimentos, olhando pro chão, como a amaldiçoar o universo ao redor. brito, the old man, sempre foi um outsider. o verdadeiro hipster d'aclimação, já te disse isso.
tenho notado como brito anda - ainda mais - afastado do convívio social. atravesso toda a garagem, pego as escadas até o átrio térreo, dou um rolê pelos aprazíveis jardins do double tree. faço hora sentado na poltrona perto dos elevadores, fingindo ler jornais e revistas. onde anda brito? sempre a pensar comigo, onde anda brito? brito, onde?
brito costumava ficar aqui, ali, em toda a parte. fumando seu cigarrinho mata-rato. demarcando território no aparentemente desleixado jogar pelo chão de palitos de fósforo usados. dia desses, quase por acaso, vislumbrei ao longe a turva silhueta de nosso old man em contraste com a cidade cinzenta num cair de tarde. brito estava de pé na calçada do lado de lá da pires da mota. sem fumar. em pé. parado. sem fumar. olhando pro nadja. poderia bem estar fumando ali, no meio da calçada, porque isso ainda pode. mas estava sem fumar. o brito. sem fumar. louko.
sábado é dia de feira na loureiro da cruz. estava de pé, esperando meu pastel de jabah com queijo, quando vi brito, the old man indeed, sentado nos degraus que levam ao pórtico principal do the double tree park. estava meio acocorado. queimando seu cigarrinho, curtindo a kretina liberdade que ainda lhe resta. mas estava com certo ar cansado.
certo ar triste de sad bastard.
não pude evitar: comentei com john pothead, no momento, como me parecia melankolico, brito.
contumaz analista da psiquê humana, o sagaz john pothead concordou apenas em parte com minha observação. "brito sempre foi sad bastard", amenizou pothead, lisergicamente, bem quando eu já me via assaz preocupado com o tal processo de entristecimento que talvez se abatesse sobre o velho senhor.
e john pothead notou que brito, repare, estava até vestindo uma camisa nova. camisa praiana, tipo caymmi, e estava em bermudas.
brito de camisa novinha e bermudas, ali sentado a fumar cigarro, detidamente espiando as atividades peixísticas do peixeiro da feira que limpa as tripas de animais acquaticos todas as manhãs de sábado bem defronte ao the double tree park.
brito está bem. josé serra & seus fascistas podem bolar novas leis e regras e estorvos mil. brito continuará aqui. the old man will abide.

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