Violência em SP
Hoje acordei e vesti meu colete a prova de balas, guardado para ocasiões especiais. Estava pronto para encontrar um brother do PCC e trocar figurinhas. Meu coturno afundava o chão da Castro Alves em cada pisada. Passei pelo bar do Zé Quebrado, onde alguns bandidos jogavam poquer a milho. Gritei: “não tem homem nessa porra!?”. Eles olharam assustados, largaram as cartas (um deles tinha um four de valetes) e disseram : “Não, amigo, na paz, na paz”. Um deles, solícito, me oferceu um tiouso pasteloso. Dispensei. “Só fumo do bom. Essa merda tá pura amônia.” O cara pediu desculpas. Segui andando. Passei por um agência arrasada do Bank Boston, em que mendigos se estapeavam por moedas, sobras do saque. Dei alguns tiros no chão com minha automática e eles dançaram o charleston. Respirei o ar puro e seco. Pensei comigo mesmo. “Que dia aprazível”. É bom estar de bem com a vida. Subi pela Vergueiro em direção à Liberdade (o bairro). Um policial berrava de dor. Estirado no chão, seu joelho parecia um chafariz de sangue. Respingou no meu casaco de couro de cordeiro. Fiquei puto. Dei um chute na cabeça do otário. “Sai da frente, ô Mané”. São Paulo é pra quem pode. Os chinas da máfia fecharam as pastelarias. Estavam com medo. Arrombei uma delas. À força. Pedi um de calabresa com catupiry. Porra, qualquer merda é desculpa pra não trabalhar no terceiro mundo. Essas coisas me deixam puto.
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