The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

28 julho 2006

if you could wear my shoes

estou no apê beat de john pothead. entrei porta a dentro porque tenho a chave reserva. de tocaia por aqui, décimo primeiro andar do the double tree park, espiando o movimento pela janela. aqui estou seguro, aqui ninguém me descobrirá. nada como uma mudança de mocó para despistar os agentes da contrarevolução.
um apartamento com vista para a rua josé getúlio. é chique o apartamento de mr pothead, the corporative beat man. fico de olho na josé getúlio. espio o movimento em frente à capeline rotisserie. nem preciso me levantar desta cadeira beat onde sento para batucar estas linhas. apenas estico o pescoço e - com cuidado pra não dar um mau jeito no lombar - posso espiar a calçada e parte da rotisserie. às moscas. tem andado assim desde que o tiozinho português sumiu (quem sabe foi pego por agentes da contrarevolução). às moscas, a rotisserie. tem sido assim desde que troquei seu balcão cheirando a álcool e clorofórmio pelo almoço novecentos e um da grelha george foreman.
daqui do mocó pothead também posso espiar o movimento em frente à churrascaria rod luz, ali abaixo na josé getúlio, pouco depois da igreja universal, da padaria madame. sob o toldo cinza da rod luz, um flanelinha escapa do calor trinta graus.
o movimento é intenso na josé getúlio. ali bem diante ao supermercado dany. mr pothead me disse, outro dia, que os dois irmãos da lial cabelereiros são baianos rubro-negros. tenho pensado em cortar o cabelo desde então. mr pothead me falou, outro dia, de sua cisma com o bar do mordestino zé quebrado. pode ser um negócio de fachada. pode ser. nunca se vê clientes por lá. apenas zé quebrado e seus amigos jogando cartas sobre a mesa de bilhar.
nunca vi uma partida de sinuca no bar do nordestino zé quebrado.
penso nisso tudo, nesses fragmentos de pistas da contrarevolução, sem tirar os olhos de meu celular beat motorola. que já vai tocar, já vai tocar, já vai tocar. aguardo importante ligação. tem algo a ver com poesia urbana. mais do que isso não posso adiantar, papito, sobre o telefonema que cá espero. algo me diz que a poesia urbana pode mudar minha vida. nossas vidas.
talvez por isso eu tenha me mudado para o apê pothead.
espio o movimento em frente ao bazar fenícia. te digo que é estranho ver as calçadas da pires da mota assim, desse jeito, vazias e melancólicas numa sexta-feira.
preciso ir para a varanda. quero fumar the careta one. mas a dona maria rosa chaveou a porta da varanda. dona maria rosa chaveia a porta da varanda do décimo primeiro andar.

|