The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

15 agosto 2006

so much trouble in the world

Ela tinha belos olhos azuis que, por si só, seriam o suficiente. Mas disse ao rapaz:

-Eu te amo

Ele, rasurado por uma cicatriz no ombro, respondeu

-Querida, me desculpe, mas o que disse não significa nada

Uh! Essa foi forte. Um arrepio percorreu a garota. Pelos eriçados sobre a pele branca, morada ideal para qualquer homem. Chocada, replicou:

-O quê? Mas eu te amo! Não pode ser. Me segurei tanto pra dizer isso.

Ele, cheio de “no mercy” com a pequena:

-Não diga mais. Não diga nunca. Nem pra mim nem pra ninguém. Essa frase, “eu te amo”, é a que foi repetida mais vezes na história da humanidade. Por isso mesmo, não significa nada. É o oco. É a morte de todos os sentimentos. Não fale, por favor, me dá engulhos. Sou intenso, preciso de sensações grandiosas, nada de “eu te amo” etc e tal.

Pobrezinha. Dezoito anos. Muita vida ali. Muito tesão ainda por descobrir. Quem será o desbravador?

-Ela ficou triste. Tentou conter uma lágrima, que saiu espremida, quase raivosa. Suspirou e ficou com aquela cara “o que faço”, “o que digo”. Por fim, disse, insegura.

-Quer que eu vá embora?

Ele riu. Uma gargalhada. Até parece. Não a deixaria ir embora por nada nesse mundo. Nope. Não sem antes usufruir de seu quinhão daquele ser especial. Depois de algum tempo, a deixaria partir. Um bom tempo. Não era mulher para um só homem. Disso, tinha certeza.

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