jornalistas
"nunca trabalhei como jornalista, e não gosto dessa profissão. é um modo promíscuo de ganhar a vida. assim como um advogado não tem amor à verdade que se compare ao seu apego aos interesses de seu cliente, um repórter não tem respeito algum pela nuance. o sentido de uma situação não é o que ele explora, na verdade ele freqüentemente evita a atmosfera, já que é difícil capturá-la num texto escrito às pressas. suas tentativas juvenis de procurar o espírito de um evento foram decapitadas anos atrás na mesa do editor de texto; desde então ele foi adestrado a buscar fatos, ainda que invariavelmente os compreenda mal. é sutilmente incentivado, quando trabalha numa matéria, a depender de tudo, menos da sua escrita. é por isso que poucos repórteres escrevem bem.
na verdade, é pior que isso. daqui a alguns séculos, a inteligência moral de uma outra época talvez contemple com horror a história implantada nas pessoas do século xx por meio da imprensa. uma corrosão do cérebro coletivo é uma das conseqüências. outra é a deformação da consciência de qualquer líder cujas ações estejam constantemente nos jornais, pois ele foi obrigado a aprender a falar unicamente sob a forma de frases citáveis e autoprotetoras. teve também de aprender a não ser interessante demais, uma vez que suas idéias, nesse caso, seriam deturpadas, e seu comportamento, criticado (...) evidentemente, os heróis que aprenderam a respeitar as limitações dos repórteres talvez nunca venham a ter de novo um pensamento original. com o intuito de se comunicar com os comunicadores, eles renunciaram a qualquer vestígio de uma filosofia pessoal."
(norman mailer)
<< Home