Leonidas de Esparta
Acordo. Vou à feira. Fazer almoço. Peixe. Robalo. Ervas. Frescas. Desço com facas e tesouras para afiar. Entrego pro baiano José João. Amolador. “Uns 40 minutos”, diz. “Beleza”. Entremeio as barracas. Abacaxi. Pérola. Figo de Valinhos. Aspargos verdes. Carqueja. Alecrim. Peixes, camarões, polvos, lulas. Ah, o robalo. Belo e branco. Volto pro baiano. Nada de amolação. “Espera só um pouco”. “Tá bem (porra)”. “Aqui nóis faz de tudo, só não faz dinheiro”. Tempo passa. Pessoas passam pela barraca de José. Ralos. Esponjas. Lixas. Tábuas. Torneiras. Rebimbocas. Senhora japonesa. “Eu não amolo facas. Me corto.” “É?”. “É!”. O baiano esmerilha. Faíscas. “To preocupado, ficou muito afiada”. Subo. Fazer logo esse peixe. Baiano demorado. Corto alho. Cebola. A faca se aproxima dos meus dedos. Antevejo. Não faço nada. Deixo vir. Slap! Foi-se uma lasca do dedo. Corta, inclusive, um pedaço da unha. Sangue. Dói. Não acho a lasca. Vai junto com a cebola. Pro peixe. Não dói mais. Acho bonita a ferida.
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