The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

04 outubro 2007

i wanna live like common people

Não tenho uma vista sampa skyline tão fucker quanto Berna Beat, do 1604. Ou a de Fred, “The Turkish”, do 1705. Moro no 1107. Da minha janela, o astral é mais blade runner, com os prédios enrugados de fuligem batendo à cara. A vantagem? Dá pra ver a vida das pessoas. Especialmente dos moradores da José Getúlio Street. Tem uns velhos doentes e seus cachorros. Um sãopaulino fanático que deixa duas camisas do time (uma reserva e outra titular) expostas no sofá em dias de jogos. Mas o hit of the summer é um casalzinho jovem. O sujeito sai pra trabalhar e sobra pra mim a garota, of course. Não dá pra ver direito seu rosto, mas tem um belo corpo, de hard workin people. De fato, ela trabalha duro. Serviços do lar. É esse cotidiano que me encanta. Acordar, arrumar a cama, varrer a casa e principalmente lavar roupa. Como nos velhos tempos. Seu uniforme predileto para o trampo é uma camiseta branca comprida, dessas que mulheres adoram. Meio transparente, deixando vazar curvas generosas e underwear. Certa vez, num calor intenso, estava só de calcinha. Turkish e Beat estavam aqui em casa, queimando um diíndio, e deliraram. Apagamos a luz e ficamos a observar o espetáculo dela estendendo roupas no varal. Deveria ter cobrado ingresso. Mas ela se cuida. São raras essas oportunidades. Sempre fecha as cortinas para momentos mais íntimos. Uma única vez a vi tirando a calcinha, por poucos segundos, para logo depois correr pra dentro. Normalmente a vejo quando vou fumar um cigarro na varanda. Nada premeditado. Apenas acontece. E como estou dois andares acima, ela não me vê. Me sinto seguro para observar. Só que, recentemente, por duas vezes, tive a nítida impressão que ela me viu. Que olhou nos meus olhos. Fiquei sem graça. Saí. Mas ficou uma dúvida cruel. Se, ao olhar, me reprovava... ou provocava?

|