The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

08 novembro 2007

the past is a grotesque animal

num momento almost on acid, decidi passar meu últimos momentos no rio (de janeiro) no aprazível jardim do palácio do catete, debaixo de jambeiros e caramboleiras. ali, numa tarde ensolarada, ouvi de longe um samba. de início pensei ser pagode. mas não. eram antigas canções, entoadas por um preto velho e seu cavaquinho. o público era notável. velhas senhorinhas, de cabelos brancos, lábios de batom, vestidos floridos domingueiros.

há tempos não ouvia aquela do altermar dutra: “sentimental eu sou/ eu sou demais/ eu sei que sou assim/ por que assim/ ela me faz”. seu vicenzo empunhava o instrumento – e anunciava canções e cantantes. “ah... e agora, dona lurdinha! que fez uma turnê no interior do estado em cinqüenta e seis”

lurdes cantou cavalgada como num cabaré da urca – embora quase sem voz, com gestual magnânimo: “vou cavalgar por toda a noite/por uma estrada colorida/usar meus beijos como açoite/e minha mão mais atrevida”.

os mais jovens não se aproximavam. compravam pipoca ou andavam com seus cachorros. ao longe. evitavam aquela gente velha, que parecia doente. com bengalas, cadeiras de rodas e andadores. mas, não. estavam mais sãos do que nunca. sadios pois perto da morte. do aconchego do lar.

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