The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

21 julho 2008

a true beatnik

seu madeira é um cara famoso n´aclimação. um cara que está sempre a dar rolê pela rua josé getúlio, sempre a bater um café nas manhãs da padaria madame. e hoje seu madeira veio ter um papo comigo, quando estávamos ambos a laricar no balcão da madame, lá pelas oito da manhã. te digo que fiquei deveras emocionado, pois o madeira é um dos sujeitos mais beats d´aclimação.
madeira está sempre bem vestido. hoje de manhã estava metido numa calça de linho branca, branquíssima, estilo pai de santo, combinando com a barba grisalha estilo roots que desce em longas suíças até o meio do rosto e se fecha num cavanhaque ralo. a calça também combinando com os sapatos esfarrapados do tipo médico plantonista e com o paletó levemente amarfanhado um tom mais para o bege. debaixo do paletó, uma antiga camisa do são paulo futebol clube. seu madeira é famoso pela beca que apruma em sua hipster figura. e pelo tricolor.
madeira entrou na madame tragando um cigarro.
o chapeiro se virou e ficou puto com o freguês - pô madeira, aqui não, você sabe que aqui não pode. verdade, ele se desculpou, tacando prontamente o que restava do cigarrillo pela janela. não precisou nem pedir, foi servido com um café preto fumegante em copo americano precariamente lavado. seu madeira tem moral. e começou a falar alto.
- ontem eu estava lá xingando o muricy e pedindo o aloísio, garantiu, batendo no peito com a recém-impressa edição do diário esportivo lance, que trazia a vitória são-paulina na capa.
- ai, lá vem você, retrucou o balconista, com esse seu papo de bambi.
- bambi, bambi...
seu madeira ficou ofendido, olhando pra mim, pedindo minha intervenção solidária.
- sou flamengo, esclareci.
- que seja. mas veja... ficam me chamando de bambi.. o que tem de mau nisso? um animalzinho simpático... que fica no mato... pior é esse que era periquito até outro dia e virou porco.
seu madeira riu sozinho dessa zoofilia bizarra e foi dar um rolê.
saiu sem pagar.
no caminho até a porta, achou uma moedinha de dez centavos no chão. colocou no bolso.
- não sou rico de ficar desperdiçando o que encontro.
e mais não disse. eu até pude vê-lo novamente, minutos mais tarde, já na avenida da aclimação, a esbravejar contra um motorista de ônibus que parou no sinal mas não abriu a porta para que ele subisse.
- vai embora daqui então. que eu moro aqui e exijo respeito.
o sinal abriu, o ônibus partiu e seu madeira, elegante, subiu a pé a rua urano.

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