The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

09 setembro 2008

the silent old man

tem o velhinho japa da rua castro alves.
ele é um velhinho bem velhinho mesmo. tão velhinho que nem sei, deve ter uns noventa, na boa. meu avô era velhinho desse naipe e meu avô era noventão. ele é velho desse tanto, sim, e está sempre ali de bobeira na rua castro alves, esquina com a rua tamandaré, exatamente onde a tamandaré, vindo da liberdade, se torna rua apeninos e sobe até o paraíso. lá tem um ponto de táxi. os taxistas mandaram uma gambiarra e passa até as partidas do pay-per-view nas tardes de sábado. mas, enfim, o velhinho fica por lá entre os taxistas. e nem dá pelota quando tem jogo de bola. ele é muito muito too old mesmo, daqueles velhinhos tão oldies que já não fecham mais a boca, sabe como é, ficam de bocaberta na tranquilidade. ele fica lá hanging out com os camaradas dos táxis. nunca tem um parente ou uma babá japa por perto. já reparei nisso. penso que alguém deve espiar o japonildo pela janela, ou deveria, imagino, em algum dos prédios da rua. mas te digo que o velhinho fica lá sentadão, sozinho e mui cool, curtindo a barulheira vespertina, nem aí pra zoeira d´aclimação. fica sentado num cantinho do banco que os taxistas armaram na parada, enquanto a tevê fica ligada no vale-a-pena-ver-de-novo. não bate papo com os taxistas. apenas fica sentado being cool. e acho que os motoras já sacaram que o japa curte ficar ali no sossego, di boresti, então estão todos de boa com a situação, sem constrangimentos. quando os taxistas não estão por perto, o velhinho fica lá do outro lado da castro alves, sentado na soleira da porta da padaria tamandaré. sempre na dele, sempre quieto, de boca aberta, apreciando o vaivém impessoal das pessoas d´aclimação. e sempre bem vestido, mesmo quando se põe a sentar na porta da padaria. calça cinza, sapatos pretos, camisa de manga comprida, muitos botões, bonezinho.
imagino o que o velhinho japa fica a pensar.
será que lembra de sua antiga terra? lembra das desavenças kill bill de sua juventude yakuza que o fizeram tomar um navio mercante até o brazil? p*taquepariu, o brazil é longe pra c*ralho, deve ter sido uma bronca pesada. será que ele lembra da japonesinha gong li que ele catou na noite em que bombardearam pearl harbor? será que ele amarelou para ser um kamikaze a explodir portaviões estadunidenses? será que perdeu a família na guerra e por isso fica de bobeira na castro alves numa tarde de terça-feira?
deve ter sido um logo caminho, lá do japão até a rua castro alves. viver noventa anos pra passar as tardes em frente à padaria tamandaré, do outro lado do planeta, aos pés da ladeira da apeninos.
não sei... mas te digo que há um algo qualquer de belo nisso.

|