ultimo tango a parigi
uma senhora japonesa surgiu no átrio do décimo-sexto andar e foi direto até a porta do brito. apertou a campainha, ninguém atendeu, ela insistiu, ainda ninguém atendeu. isso foi agora há pouco. uma senhora japonesa assim, meio yoko, cabelos grisalhos despenteados de quem chega da rua, muito bem composta, de calças de veludo, casaco, sobretudo, carregando a bolsa e o guarda-chuva. carregando, na outra mão, um pote de manteiga, de margarina doriana, com sal, aquela do pote azul. como ninguém atendia, bateu na porta com os nós dos dedos, os ossinhos da mão direita. olhou para o alto da porta, a conferir o número: 1605. deu um passo para trás. esperou um pouco. tocou a campainha ainda outra vez, em seguida levando a orelha até a madeira da porta, encostando na porta, sem resultado. ela se afastou lentamente e voltou ao hall dos elevadores, dobrando à esquerda, disparando a luz termossensível e fugindo do campo de visão do meu olho mágico. abriu a porta da lixeira, isso eu sei, ouvi a porta de metal abrindo e depois encostando novamente. me perguntava se ela tinha ido embora pela lixeira, quando surgiu novamente no corredor. tocou a campainha, silêncio, repetiu o gesto again... bateu na porta, três toques curtos, como da outra vez. meteu a mão na maçaneta, num relance, e abriu a porta de leve, abriu lentamente a porta à sua frente. "maria", ela chamou, entrando no apartamento, fechando a porta às suas costas.
<< Home