The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

23 outubro 2008

a little spaced out

a receita de cookies de chocolate, da ana maria braga, me deixou mais xarope que o louro josé. o que teria john pothead, notório gourmet lisérgico, misturado à massa daqueles inofensivos cookies? quando desci do táxi, minhas pernas bambearam e me senti meio armstrong a pisar em solo lunar. sentindo a súbita alteração gravitacional e tentando calcular o peso e a força a dar para as pernas a cada passada. tu acabas andando meio torto assim, até se acostumar com o repuxo. e todas as pessoas todas ali ao redor todas olhando pra mim, seria esquizofrenia minha, estariam ouvindo meus pensamentos? reparariam na minha desfamiliaridade com aquele meio ambiente alienígena? calculo a próxima passada e olho para john pothead, meio freaking out, até tinha me esquecido que ele veio junto no táxi. e lá está mister potman caminhando inabalável em linha reta, não porque queria caminhar assim, apenas por que it feels like walking. john pothead passa pelas barreiras de segurança, pelos engravatados, pelos modernos jazzy. john pothead a entrar na ampla nave sem nem olhar para o redor. a luz branca do luminoso átrio halo aeroespacial me ofusca a vista. quase atropelo um sósia de devendra banhardt. tenho sérios impedimentos em calcular meu deslocamento espacial, m/s. cat power passa por mim, acompanhada de um trouxa. me perco na arquitetura moderna de tuas curvas. acordo no terceiro sinal, entalado na poltrona, meus joelhos prensados contra a mureta acarpetada. pessoas inteligentes fazendo comentários sarcásticos a três dedos de minha nuca. ponto de macumba. sinto que ouço mais o que se passa pelas minhas costas do que gostaria de ouvir aqui na minha frente. teu canto de macumba. sinto minhas rótulas abandonando as pontas de meus fêmures. em momentos assim começo a suar feito camelo. um bocejo me chama lágrimas à flor dos olhos. não as deixo escorrer pela face, respiro fundo, sinusite style, tampo o ar nos pulmões e lembro do jovem fred chalub a me dizer em épocas passadas... é como estourar uma bomba, sem a estourar de fato... novas ondas de vertiginosos pensamentos se sucedem em meu cerebelo, pensamentos se intercalam e se sobrepõem e se excitam em shuffle permanente pelo meu tronco cerebral, irradiando conflitantes comandos por minha espinha cervical, como uma meditação ao contrário: all my thoughts now at once. a poltrona me espreme mais duas polegadas, apertaram um torno sobre minh´alma. no hay banda. o sangue a abandonar minhas pernas. sinto certa liberdade inaudita ali crunched por estar assim em posição fetal. tudo tão normal. te pergunto se estaria entalado em outra dimensão? the very macumba amazes me. quando tento espichar os braços, encompridar as pernas, me soltar, levantar os braços, quiçá me soltar daquele lugar, encontro john pothead sentado ao meu lado. absorto. como veio parar aqui?

|