The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

14 novembro 2008

cabbies on crack

o taxista é chinês. conversa comigo olhando pelo espelho retrovisor.
mister yee dá uma guinada à esquerda com seu santana e se joga na autopista vinte três de maio. enquanto puxa do bolso seu cartão e me entrega: mister yee.
- kogonhas, né? kogonhas!
não sei porquê, me sinto meio bill murray em lost in translation.
mas sem a scarlett.
- isso. aeroporto de con go nhas.
esmiúço as sí la bas just in case. ele sorri pelo re tro vi sor.
- vai viajar longe?
- se eu vou pra longe?
- cidade longe?
- si, verdad. vou pra longe. vou para a cidade de brasília, distrito federal.
- ah, braxília, né?
- yep.
- você? senado?
- senado?
- senado!
- se eu sou do senado federal? não senhor...
olho pra mim mesmo: mochilão, bermudas, ipods.
- meu irmão trabalha senado.
- que boa pra ele, hein? boquinha...
- você? xupremo?
- seu primo?
- xupremo!
- meu primo?
- xupremo!
- não... não sou do supremo tribunal federal, não, meu senhor.
- trabalha como?
- sou poeta.
- como?
- sou jornalista.
- ah... tevê grobo?
- isso. tipo globo.
- não te vi tevê grobo.
- nã... mas não na globo.
- band news?
- nã... sou do jornalismo impresso, trabalho como repórter ocasional. jornalismo gonzo, percebes? tipo hunter. escrevo prosa poética, com lisergia, mas em jornalismo. crônicas, resenhas e pequenas veleidades do jornalismo cultural. tipo o norman. curto o noman. tu curtes o norman?
- ah - ele me olha confuso - era essa a idéia. mas volta à carga rapidinho
- meu irmão senado gabinete romeu tuma... secretário.
- então teu irmão trabalha como secretário no gabinete do romeu tuma?
- tuma.
- bacana. que simpático é o tuma...
- você não trabalha senado?
- não... não...
- não quer senado? ganha bem.
- oh. imagino que sim.
- por que não senado?
- porque o ambiente é escr*to, né? imagina ter que conviver com aqueles bandidos. tipo tuma...
- sim. braxileiro bandido.
- exato. braxileiro bandido.
- serra bandido, né?
subo o vidro da janela e ligo o ipods. the jesus and mary chain. listen to the girl as she takes on half the world...
mister yee corta à direita sem dar signal.

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