The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

04 novembro 2008

sleepless in seattle

economia doméstica sucks. em tempos de recessão, crisis internacional, fusão entre megacorporações e quebra das bolsas de valores, entrei num clima de economizar uns mangotes. de tal modo que dediquei parte da manhã para dar uma batida nos dois supermercados aqui mais próximos do the double tree park. afinal, economizar uns tostões demanda esforço físico, preparo psicológico, apurado senso de observação e um relativamente grande tempo ocioso.
fui primeiro ao supermercado dany, à rua josé getúlio, porque tem uma guria que trabalha de caixa ali que é uma gracinha. acontece que o dany é um estabelecimento modesto, voltado para os consumidores que não se importam de ter apenas uma única marca de pizza congelada à sua disposição (sadia, eca). além de sua funcionária, o dany é muito atraente também pela padaria e pelo hortifruti. uma salada mix (tiras de alfaze, agrião, cenoira e beterraba acondicionadas em uma bandeja de isopor) sai por módicos 2,98 dinheiros - enquanto no supermercado concorrente, o hirota, uma salada mix em muito semelhante mas levemente mais chic (graças ao acréscimo de ridículos três tomates anões) não sai por menos do que hiperinflacionados 8,20 dinheiros. de todo modo, o supermercado hirota, à rua loureiro da cruz esquina com avenida d´aclimação, tem lá seu apelo. tenho em muito boa conta seu açougue - com suas tenras carnes vermelhas fresquinhas sobressaíndo-se diante dos cortes arroxeados de anteontem que o dany exibe na maior cara de pau. de resto, os preços flutuam daqui prali em permanente oscilação, e completar minha cesta básica beat vira um fluxo constante de centavos entre um e outro mercado.
te digo isso porque, então, esta manhã, eu entrava-e-saía pelo térreo do the double tree park, carregando sacolas de plástico, cruzando o hall dos elevadores. foi quando encontrei mais uma vez meu vizinho brito, the oldman next door. pela primeira vez em nosso longo e algo tempestuoso convívio, pude ver brito sem que ele estivesse fumando um cigarro e/ou segurando o maço na mão.
brito estava dormindo. brito estava sentado, capotado, num dos espaçosos e confortáveis sofás do átrio do double tree (duzentos e noventa mensais de condomínio). justamente o sofá mais pegado à porta da academia de malhação - onde, àquela hora, os almofadinhas do residencial estavam entretidos a puxar ferro, exibindo shorts sintéticos e camisetas de regata. e brito, alheio à geração saúde, estava capotado no sofá. tirando uma pestana. puxando um ronco. pagando um soninho. dando um crash. brito até ronronava, de leve, assim bem baixinho, bem discretamente. te digo que o brito é um camarada que sabe viver.
i dig old people.

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