os sete loucos

"referindo-se a esses tempos, erdosain me dizia: 'eu acreditava que a alma me tinha sido dada para gozar as belezas do mundo, a luz da lua sobre a alaranjada crista de uma nuvem, e a gota de orvalho tremendo sobre uma rosa. mas, quando pequeno, acreditei sempre que a vida reservava para mim um acontecimento sublime e encantador. mas à medida que examinava a vida dos outros homens, descobri que viviam entediados, como se habitassem um país sempre chuvoso, onde os raios deixassem no fundo das pupilas tabiques de água que lhes deformava a visão das coisas. e compreendi que as almas se moviam na terra como os peixes prisioneiros num aquário. do outro lado das esverdeadas paredes de vidro estava a encantadora vida cantante e altíssima, onde tudo seria diferente, forte e múltiplice, e onde os novos seres de uma criação mais perfeita, com seus belos corpos, saltariam numa atmosfera elástica'. então, dizia-lhe: é inútil, tenho que escapar da terra."
(roberto arlt)