The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

07 setembro 2009

a história da eternidade

tardes quentes da afrika. faz tipo uma semana que meu apartamento beat tem recebido visita constante. todas as tardes. pouco depois do meio dia, chegam minhas duas visitantes. um par de moscas. as garotas ficam a voar em círculos no meio de minha sala hipster, entre meu aprazível sofá e o armário de livros. esse é o raio de acção delas. perímetro tracejado em absoluta fantasia, com a graça intangível dos paragliders. elas passam horas e horas assim, nem sei te dizer como podem não ficar tontas, voejando em círculos, em elipses, em loops hipnóticos, em espirais que nunka se fecham, infinitas. ligo meu ventilador brittania só pra ver como elas se comportam aos quatro ventos. o facto é que se divertem de monte, se divertem tanto que até recebem companhia. nas tardes mais quentes, às vezes são três, às vezes são quatro as moscas a voar. neste momento em que te escrevo aqui, quase quatro da tarde, são quatro as mosquinhas ligeiras a tracejar parábolas compridas no ar morno de meu apartamento beat. no princípio, pensei que fosse uma espécie de frisson, insectos no cio. a dança das borboletas, canta o poeta zé ramalho. uma espécie de dança do acasalamento dos inseptos. certa vez, quando em menino, lembro ainda hoje, flagrei duas moscas copulando no ar, intensamente, em pleno voo. então posso te dizer que não é o caso aqui presente, não. meu apartamento hipster não virou (ainda) um motel para seres alados. as mosquinhas ficam na maciota, pirando em círculos mil, sem copular, castas como crianças no parquinho, platonikamente como priminhos pré-puberes.
um playcenter para estas tardes vazias.
deve haver uma carniça aqui em meu apartamento.
em todo caso, amanhã é dia de maria rosa, dia de faxina, dia de veja multiuso, álcool zumbi & cândida.
a ver como as moscas beats vão reagir. periga gostarem.

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