lombalgia
dois dias resfriado. espirrando. com aquela costumeira tosse de cachorro molhado. gripe clássica de ar condicionado de redação de jornal. ou, se preferir, minha aversão extrema a redações de jornal. em geral. uma espécie de rinite jornalística. uma alergia brutal que me empipoca a pele, entope o nariz, trava a garganta e encatarra os pulmões. bueno. passei dois dias brabos por conta desse jornalismo old school - pretty old se me perguntas. sobrevivendo à base de remedinhos. pills, thrills and bellyaches. dois dias sedado. under the influence. ouvindo em mono e reagindo lentamente aos estímulos externos. trabalhando debaixo de uma forte onda de drugs farmacológicas legalizadas. uma combinação de resfenol, novalgina em gotas, xarope melagrião, marlboro lights e pastilhas valda; além das bolinhas usuais, minhas bolinhas de sempre, bolinhas queridas que me mantêm de pé. dois dias em topor opiáceo. por assim dizer. tipo ronalducho entregue à marcação. chapando na frente dos jogos de futebol, três por dia, mais os vetês e os debates esportivos. ainda tentando entender as coisas que as pessoas me diziam, pois deviam ser importantes pra mim. e escrevendo qualquer cousa a respeito de futebol. sempre. redator gonzo. esporte é saúde. e agora estou, de leve, despertando da overdose de medicamentos químicos e peladas internacionais. poderia sentar e escrever algo brilhante sobre a vida do lado de lá, sobre a alquimia que me alterou as funções vitais. mas sinto apenas uma dor forte nas costas, tipo cold turkey. e uns flashbacks mais e mais distantes. assim ocasionais. poderia escrever, sim, minhas canábicas memórias de viagem. mas o que me lembro desses dois dias felizes não vem exatamente ao caso agora e me aborreço só de pensar em me encompridar por mais uma linha que seja. é só.
preciso de mais um resfenol. ou dois.
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