The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

03 fevereiro 2008

até o dia em que o cão morreu

"não havia nada de errado com aqueles sonhos, mas eu duvidava que eles um dia pudessem se tornar realidade. isso eu não dizia pra ela, claro. as exatamente quanto da vida ela estaria disposta a sacrificar com um trabalho que a fazia sentir-se humilhada, conviver com gente que não suportava, passar semanas inteiras dormindo mal? todos os sonhos dela estavam marcados pra dali a três, cinco, dez anos. nenhum deles valia pra agora, pro dia em questão. me dava agonia ver alguém se preparando constantemente pra começar a viver. eu não conseguia fazer isso. parecia bem mais adequado permanecer exatamente onde eu estava, aceitando que minha vida era aquilo mesmo. eu não precisava de muita coisa. gostava de ir à janela do meu apartamento e olhar a cidade lá embaixo. dezessete andares me separando da civilização, apenas o murmúrio dos carros me chagando aos ouvidos. na água do guaíba e no horizonte, eu enxergava uma tranqüilidade ao meu alcance no presente, ali dentro do apartamento. era só acender um cigarro e esvaziar a cabeça de qualquer expectativa, eu a sentia. acabei me viciando nessa tranqüilidade. são as expectativas que fodem tudo."
(daniel galera)

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