The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

27 maio 2008

the double life of the mendigs

alguma cousa acontece no meu coração quando cruzo a pires da mota com a josé getúlio...
hoje de manhã, por exemplo, me bateu na fuça um cheirinho azedo de bosta dormida ali na famosa esquina d´aclimação. apertei o passo, fiz que não senti, e fui lá ao mercado dany resolver minhas pendências matinais.
na volta, passando pela mesma esquina, o simpático rapaz da farmácia tinha se afastado de seu abrigo costumeiro, de trás do balcão, e estava a enxotar um mendigo. despejava baldes de água na calçada para tirar de lá o desocupado. foi então que o cheiro de bosta aumentou e impregnou o ar a nossa volta. o mendigo tinha se melado todo de cocô. ele ajeitou as calças fétidas em torno da cintura e saiu arfante num trôpego sacolejar de bebum. deixando para trás, como lembrança, um arredondado e esverdado tolete em meio à calçada molhada.
o camarada da farmácia, ainda com dois baldes nas mãos, achou que era o momento de tirar uma com a cara do mendigs...
"mas que bela cagada tu fez, hein?"
soltou essa e olhou pra mim, esperando que algo em meu semblante parvo aprovasse o duplo sentido de sua frase tão bem manejada. pois é, meu senhor, eu retorqui ao esforçado comerciante, referindo-me talvez a seu alvo jaleco de farmacêutico, pois é, se esse fosse o maior de seus problemas, ele estaria bem, e o senhor também.
disse isso e me afastei, cruzando a rua, para me refugiar no the double tree park o mais rápido possível. the double tree park, abençoado seja, onde nós, os afortunados outsiders da classe média, podemos nos cagar na privacidade de nossos lavabos, sem acordarmos em baldes de água.

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