The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

28 junho 2008

stray dogs

frio do cacete n´aclimação. frio e serração. quase colocando abaixo a mesa do meu comput, a marretadas, pra fazer de lenha. cubro minha carcaça com casacos e jaquetas e cachecóis e gorros e impermeáveis mil, assim astronauta, e estico as pernas para enfrentar the fog paulistano no corpo a corpo. sete da manhã, descendo a pires da mota. ali na quase esquina com a josé getúlio, trombo com um cão vadio. daqueles legítimos. um vira-lata de pedigree. dos mais clássicos: pêlo curto e doirado, barriga branca, focinho escuro, pernas finas e rabo comprido desgrenhado.
o totó dá umas voltas pela calçada, cheirando nos postes os mijos de cachorros outros, cachorros de madama, que descem de seus apartamentos classudos só para fazer territorial pissings na vizinhança e largarem generosos bombons de caca no caminho dos passantes. sem muita vontade de mijar, já tinha mijado em casa, eu te digo que quebro a passada na josé getúlio, virando à esquerda. e o totó vai pelo mesmo caminho, fagueiro logo pela manhã, adentrando a rua favorita dos bebuns d´aclimação.
os cachorros e as pessoas desaparecem de uma hora para outra na grand ciudad, um poeta já o disse, quiçá eu mesmo. mas o que o poeta não reparou é que os cachorros também surgem de uma hora para outra na grand ciudad. esse totó doirado mesmo, com seu rabo em desatino e andar trôpego, é bem novidade entre as gentes d´aclimação. imagino de onde tenha vindo. caído do caminhão de mudanças. armado uma prision break na carrocinha. abandonado pelo dono em desalinho. órfão de algum poeta torto, beatnik, que dormia pelos campos elísios e não resistiu à friaca de inverno.
peço um café preto doce e fumegante no balcão da padaria madame. café doce e fumegante é bom pra dilatar os dutos venosos e arejar os poros da epiderme num frio do cacete assim. fazendo hora esperando o mercado abrir, dando um tapa no cafezinho. o cachorro fica na porta da padoca. se distrai com o caminhão de laticínios.

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