The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

29 julho 2008

hit and run

quando eu falo que a esquina entre a rua pires da mota e a josé getúlio é um dos principais entroncamentos viários da grand ciudad fica parecendo blague. mas és puramente la verdad.
tanto que esta semana, poucos dias atrás, até a companhia de engenharia de tráfego de são paulo percebeu como a mencionada esquina se revela um ponto nevrálgico para o trânsito n´aclimação e, por tabela, em toda grande são paulo. a cet destacou um de seus bravos marronzinhos para patrulhar exatamente essa área, aqui próxima ao sopé do the double tree park.
um marronzinho é tipo um guardinha do detran: óculos rayban, palitinho no canto da boca, talão de multas na mão e, neste caso, um uniforme marrom-cocô que aqui valeu a ele e a todos de sua classe esse apelido genérico. o marronzinho é antes de tudo um chato. o camarada, posso espiar agorinha mesmo aqui de minha varanda beat, está lá de pé, se espremendo na nesga de sombra lançada pelo residencial pedro rachid na calçada esburacada ao sol das três e pouco da tarde. ele já está por ali logo de manhã. sempre a deitar delitos & infrações em seu amarfanhado bloco de multas. (essa figura surgiu aqui no quarteirão assim que entrou em vigor o rodízio municipal para os caminhões; e não é coincidência: há seis diferentes canteiros de obras aqui num raio de cem metros e os caminhões andam sumidos.)
de vez enquando uma velha gagá d´aclimação - e são várias, pode crer - aproveita aquela figura autoritária dando sopa ali na esquina e a puxa de lado pralguma longa conversação sobre trânsitos & transeuntes. justinho ali na esquina tem um ponto de táxi, então há sempre um taxi driver suficientemente empolgado para tomar pé do discurso e defender a categoria. já acompanhei alguns desses bafafás assim de rabolho, meio ao largo, quando no rumo do supermercado dany, e a velhinha está a reclamar dos carros e o taxista está a garantir seu sustento de maneira digna.
mas hoje o marronzinho da josé getúlio teve que trabalhar de verdade.
uma caminhote preta daquelas de vidros fumê não parou no sinal e levou junto um entregador de água mineral que estava a pedalar sua bicicleta na faixa de trânsito. tão emocionante, um acidente de verdade. todos pararam para acompanhar o sucesso do desastre. os barbeiros do lial vieram para a rua. a tia da banca de jornais comentava minuciosamente as idas e vindas do bicicleteiro. o playboy da caminhote (não vi o cara, mas te digo que deve ser playboy, ou pai de playboy) parou o carro (em cima da faixa, claro) e tentou acudir o coitado. escapou de ser linchado e tal.
e o marronzinho atingiu seu momento de glória: apitando e gesticulando com os braços, mandando acelerarem os carros que desciam a pires da mota devagarinho, mandando passar rápido, sem parar para ver, sem engarrafar o tal entroncamento viário.
quem viu isso tudo foi a maria rosa, que estava lavando a janela do banheiro, e me chamou para espiar também.
então a ambulância de sirenes alertas subiu a pires da mota na contramão. ambulâncias, bombeiros e nossos simpáticos cops paulistanos adoram subir a pires da mota na contramão. dá adrenalina. tipo tropa de elite, sabe? e logo meteram o atropelado numa maca e o levaram para longe dos olhos públicos. o motorista acompanhou os oficiais até delegacia, décimo-quinto distrito, aclimação. para tratarem de particulares. e o vendedor de pães apareceu na esquina, dobrando o quarteirão, anunciando sua presença ao ordenhar com insitência sua buzina estridente tipo chacrinha. os bebuns voltaram para dentro da padaria madame e pediram mais uma brahma. maria rosa calçou suas luvas de borracha e voltou a tratar do celite, cantando hinos religiosos.
a vida voltou ao normal na urbe imensa.

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