The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

22 agosto 2008

be like the squirrel, girl, give it a whirl

te digo que, nos últimos dias, eu continuei imbuído em meu projeto de becoming and old fart, tornando-me um véio. ensaiando a minha aposentadoria precoce nas tardes d´aclimação. agora há pouco saí pra dar um rolê pelas cercanias.
é necessária certa dedicação para que tu consigas dar uma banda realmente no estilo aposentado. uma tarde assim ociosa, de fato, lembra muito uma tarde em que simplesmente se dá o perdido no emprego. essa confusão é um erro muito comum nos jovens aposentados. perceba que a diferença, basicamente, é que aqui não há um emprego em que se dê o perdido. é nessa discreta diferença que reside toda uma outra motivação, e daí todo um diferente comportamento que se vislumbra facilmente até nos gestos mais cotidianos - tal como, por exemplo, dar um rolê pelas cercanias numa tarde de sexta-feira.
não seria o caso de se dar uma banda ligeira, apressada, de passos febris, olhar atento e espírito armado. isso é cousa de quem faltou ao trabalho e tenta descontar em um punhado de horas toda a semana estressante e vazia. isso é cousa de paulista. também não seria o caso de se escrutinar uma programação para as próximas horas: pegar a matinê das duas, descer até o aclimation park, alugar um filme na boulevard vídeo, dar um rolê consumista pela conselheiro furtado, sair com o cachorro. nanão. nada disso.
percebo o movimento dos old coreans d´aclimação, os hábitos de meu vizinho brito, sigo as velhas encurvadas fazendo compras no dany. muita observação em um campo de estudo bastante amplo, me levou a uma simplicidade tocante, que agora compartilho contigo.
que seja... take your time, dude.
o bacana duma tarde ociosa de um old fart e usá-la para... nadja.
disperdiçá-la ao vento. gastar longos minutos simplesmente arrastando minha carcaça beat pelas calçadas da pires da mota. esse lance de andar apressado e falar rápido é febre de juventude. be like the old corean. gestos lentos, movimentos lentos, um caminhar tranquilo. zen & a arte da manutenção de motocicletas.
assim, na maciota, desço até a banca de revistas tentação, na esquina com a josé getúlio. dou uma olhada nos lançamentos editoriais, folheio algumas revistas, dou uma paquerada na carol castro na capa da playboy - e não levo nada. repare como os oldies raramente levam algo que folhearam.
vou até a padaria madame e tomo um café preto de meio da tarde. aproveito pra me espichar no balcão da padoca espiando seu recém-adquirido pacote de tevê por assinatura. o português dono da madame sintoniza na rtp. parece piada ruim, de tão clichê, mas é vero.
e então vou no dany. aproveito e me perco por entre as gôndolas. lost in the supermarket. vou até os recantos menos percorridos do mercadinho, como o canto onde se escondem os copos duralex, os pirex e os panos de pó. a novidade de fazer as compras assim em ritmo old men me proporciona um par de realizações: me lembro de comprar um pacote de papel higiênico (vejam que a correria do dia-a-dia poderia me trazer problemas sérios quanto a limpar a bunda) e posso mesmo perceber que o pão de queijo congelado está em promoção (três e noventa e oito).
deixo a pacotaiada em casa - é chato andar por aí com rolos de papel higiênico.
então desço a pires da mota mais uma vez, agora sigo até a avenida d´aclimação. repito à tarde um troço que muito me entretem pelas manhãs: sentar no banco da parada de ônibus e espiar os malucos circulantes. decepção. porque de tarde fica tudo kind of boring, sem o lufa-lufa coletivo matinal de quem está atrasado para o mundo corporativo. sucks.
subo até a rua josé getúlio, novamente, porque a aclimação é um pequeno pedaço de chão, e agora dobro a esquina para o lado oposto. no rumo da lanchone açaí power. por algum motivo que me foge à compreensão, essa lanchonete tão comunzinha foi adotada em peso pelos jovens coreans d´aclimação. neste momento, eu sou o único ocidental ali sentado no açaí power. eu e o rapaz do caixa e a guria que bate os sucos. o resto é corean.
jovens coreans de cabelos espetados tipo spectromen. devem estar comentando sobre as finais do tênis de mesa em pequim. ou quem sabe comentem o cinema transgressor de kim ki-duk. sei que eles falam alto, aos berros, usam os celulares e se comunicam com outros coreans perdidos por aí. enfim, eles agem como os adolescentes de qualquer ponto do planeta i-pod, eu suponho do alto de minha estimada senilidade precoce. estes são histéricos e riem alto. contam piadas em seu idioma impenetrável e tudo me parece um grande circo meaning nothing. te digo que tanta juventude me cansa. bocejinho.
be like your old men, rapazes.

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