The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

15 agosto 2008

like a rolling stone (or what?)

bueno... te digo que, noutra encarnação, fui um jornalista rocker. tipo aquele moleque do filme 'quase famosos', tu sabe como é.
tudo bem que eu fui jornalista rocker nos anos noventa, e em brasília, e sem a kate hudson por perto, o que empana um pouco a magia do troço. mas, enfim, como dizem os gringos, being there, done that, estive lá e fiz isso.
desde moleque eu queria ser jornalista rocker. desde que comecei a ouvir música a valer, no verão de 1990, descobrindo bob dylan e rolling stones e led zeppelin. meu pai, antes disso, tinha todos aqueles vinis dos beatles, claro, mas por isso mesmo, beatles não valem. e te confesso que bon jovi era bem bacana, quando eu tinha doze anos, e bon jovi me levou aos guns n´roses e a outras bandas de má índole. mas foi apenas quando o zeppelin, os stones e o velho bob entraram na parada - fitinhas cassete compradas nas lojas americanas nas manhãs de sábado - é que esse troço de rock ficou sério.
anos mais tarde, quando fui fazer jornalismo, me parecia natural, evidente sobre o que eu ia escrever e tal.
me lembro, de passagem, da tarde mais memorável de toda minha carreira como periodista. quando fui pautado para fazer uma resenha sobre uma coletânea do led zeppelin, a 'remasters', que recebia nova edição em cd nacional. olha só, não pude deixar de pensar naquele instante, 'communication breakdown' nas caixas de som, estou aqui sendo pago para ouvir as músicas que eu ouvi durante todo o meu segundo grau em vez de estudar matemática-física-química. ou o sistema está errado, muito errado, ou sou mesmo um sujeito de sorte e consegui achar uma brecha pra mim na sociedade civil, no mundo adulto, no mercado de trabalho. enfim.
porque sei que tem gente que foi fazer jornalismo por causa do elio gaspari, por causa do caco barcelos, por causa da monica veloso.
meu pai é jornalista para valer, daqueles que cobrem a esplanada e tal. mas minha influência maior no jornalismo eram os caras da finada revista 'bizz' - principalmente aqueles entre o final dos anos oitenta e meados dos anos noventa: josé emilio rondeau, ana maria bahiana, fernando naporano (que tive a honra de conhecer), andré barcinski, andré forastieri, rogério de campos, carlos eduardo miranda, essa turma.
a 'bizz' era bem lúdica e bem instrutiva. mais do que isso, era essencial naquele mundo sem internet, sem mtv. porque meu pai não é roqueiro, não. nunca tive irmão mais velho pra me ensinar como funciona.
então eu lia uma resenha do guns n´roses que falava do led zeppelin - preciso ir atrás.
lia uma resenha do zeppelin que falava do jimi hendrix - preciso ir atrás.
lia uma resenha do hendrix que falava do cream - preciso ir atrás.
lia uma resenha do cream que falava do - bem, tu entendeu...
aprendi rock assim, por escrito. de big star a the stooges.
depois rolou a 'rolling stone' nas bancas brasileiras. os doces anos fhc e a taxa de câmbio a zero faziam com que a bacanuda 'rolling stone' chegasse nas bancas mais barada do que a 'ele ela'. hoje está evidente pra mim que a revista já vinha ladeira abaixo (capas com a gwen steffani, com o bill clinton), mas, de certa forma, era o que restava da mítica 'rolling stone' de hunter thompson e ben fong torres e jann wenner.
então a 'bizz' ficou brega e quebrou. tentou voltar e voltou ruim e quebrou de vez.
e a 'rolling stone', a franquia de jornalismo, ganhou edição nacional. pois lá fui eu, berna beat, o antigo foca do jornalismo rocker, a comprar uma por uma, todo mês, empilhar as revistas no armário. iggy pop na capa. bacana. keith richards & johnny depp na capa. bacana. dava até pra deixar passar as resenhas sobre as novas bandas emo e toda a babação na pitty.
mas, ôpa, espera um pouco... os caras estão apelando...
rodrigo santoro na capa da revista, ivete sangalo, grazi, fausto silva, nx zero... e as matérias puxando saco desses pulhas... entrevistas com fernanda lima e alessandra ambrósio, esses luminares da cultura nacional, para justificarem as photos peladas.
de buena... te juro que tentei. em homenagem ao finado berninha rocker de catorze anos de idade, juro que tentei. mas os camaradas, este mês, tiveram o culhão de mandar para as bancas uma revista com o mago paulo coelho na capa.
ah, mas vai pra pôrra. deu pra mim. como diria o poeta, pode usar pra limpar a bunda.
pobre muddy waters, pobre bob dylan, que inspiraram o nome desse catálogo de compras. hunter thompson, que era esperto, meteu um fuzil na boca por menos que isso. abraço.

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