The Pothead Blues

poesia beatnik e pensamentos nihilistas

12 agosto 2008

the books in my life

hoje é dia de maria rosa. então tive de dar um perdido de, pelo menos, um par de horas. fui zanzar pelas cercanias da paulista avenue. disposto a matar tempo. meus passos me levaram até a livraria cultura. por hábito, por costume. resisti bravamente às ofertas de dvd e aos lançamentos do mercado editorial às vesperas da bienal do livro de são paulo - nem mesmo o disco da amy winehouse em LP importado, setenta pilas, me falou ao bolso.
como te dizia, eu resisti bravamente, resistia bravamente até...
dar com um novo livro de charles bukowski ali na estante dos autores estrangeiros, altura da letra b. novinho em folha, "ao sul de lugar nenhum", edição da l&pm.
uêbas. um livro novo do bukowski.
mas, tu dirias, com razão, charles bukowski não é morto? como assim um livro novo de charles bukowski?
eu te responderia, de boa, em verdade, este é um livro antigo, é a tradução recente de "south of no north", e não poderia mesmo ser diferente, uma vez que charles bukowski é morto.
mas como eu nunca li esse livro, então é um livro novo do bukowski. como não?
(tenho sido surpreendido ultimamente com filmes novos de ingmar bergman e livros novos de jack kerouac. filmes e livros recém-lançados. inéditos para a minha pessoa. bergman e kerouac e o velho buks estão tão vivos quanto eu e você - mais até do que muitos de nós.)
felipe campbell, estimado leitor do tpb, outro dia mesmo estava a perguntar qual livro do bukowski deveria tomar para ler. sugeri uns quatro. porque tentei ser sintético e objetivo. aproveito e digo agora pro elipe que me esqueci do "hollywood", que é um dos últimos dele, é bom pra c*ralho e tem uma edição de bolso bacana e baratinha.
não sei quanto a ti, mas eu não consigo comprar um livro novo e esperar até chegar em casa para poder lê-lo. ali mesmo, dentro da livraria, joguei fora a sacola de plástico e o comprovante fiscal, e abri o livro para ler. um livro de contos. o primeiro começa assim:
"edna estava caminhando pela rua com sua sacola de compras quando passou pelo carro. havia um cartaz na janela lateral: procura-se mulher."
me meti a ler, andando por entre as pessoas, paulistas andam o tempo todo, tropecei numa senhora de idade, antes que trombasse em alguém com conseqüências mais sérias, sentei num banco. tive de terminar de ler o conto. depois peguei o metrô. e ler no metrô é chato. sacoleja. mas deu pra ler as duas orelhas do livro (bem ruins, cheias de clichê, "sobre personagens que desistiram da sociedade", "bukowski empresta sua voz áspera de cigarros e destilados", até eu faria um serviço menos porco.) desci na estação vergueiro, procurei outro banco pra me sentar, no centro cultural são paulo, e li então mais dois dos contos de buks.
seus personagens que desistiram da sociedade estavam ali nas páginas do livro e também ali na vida real, ali ao meu lado, um mendigo sentado fedendo suando sobre o banco da praça, aliviando-se na sombrinha de duas das tarde neste inverno de trinta e seis graus. hey, isto aqui é bukowski em tempo real, e não-editado, me lembro de ter pensado.
"eu estava sentado em um bar na avenida wester. era perto da meia-noite e estava metido em uma das minhas habituais confusões. quero dizer, você sabe, nada dá certo: as mulheres, os trabalhos, a falta de trabalhos, o tempo, os cães. por fim, você simplesmente senta em uma espécie de estado de transe e espera como se estivesse no banco da parada de ônibus aguardando a morte."
charles bukowski me fará companhia para esta tarde. e para mais uns tantos dias. assim que chego em casa, tiro os sapatos e me esparramo de meias no meu sofá beat. interrompo a leitura num salto, apenas pra bater essas palavras ligeiras aqui, mas já deu no saco, já ficou comprido, já disse o que tinha que te dizer.
com a tua licença...

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